domingo, 31 de outubro de 2010

Jamais

Não é que eu quis diferente,
Não mais além ir dos fatos.
Dar um: “Bom dia minha gente,
Tirar botões e retratos!

Não é que eu queira presentes
Nem mesmo fundar o boato,
Mas é seguinte o em frente
Dolo faz do meu ato.

É que eu fui simplesmente
Deitar de cansado,
Quando voltei meu amor
Findou de maus tratos.

Sim, antes, porém exigente,
Cair pra sempre ao teu lado?
Pois ainda morto não sou
Morto de amor?! Um bocado.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Religião vs. Ciência e um toque de Cultura.

A religião é de longe um dos assuntos mais polêmicos dos nossos e de todos os tempos, pois meche com as paixões mais sagradas, tanto para quem crê no criador, quanto para quem crê na criatura. Eu, particularmente, vejo que não podemos falar desse tema de forma apaixonada, sem que corramos o risco de nos perder em nas próprias crenças e nos próprios costumes, já que imagino que crença e costume é a alvorada para a elucidação do nosso tema principal: o que somos e o que querem ser que sejamos?
Não é difícil perceber que a religião está intrinsecamente ligada à ciência quando queremos po-las em cheque.
E o que seria religião? A Wikipédia define religião como sendo “um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que parte da humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças”. Ufa, quanta coisa! Não deveria ser apenas a busca de Deus? Ou quem sabe, apenas a busca pelo que é bom e correto? Mas ai, no conceito de correção, entra o velho e bom costume... Então religião apenas seria algo que nos é passado de pai pra filho e que muitas vezes nos é forçado a ser e fazer parte do que somos... Nossa, vendo assim Deus seria uma simples compilação humana, um simples ato passado de geração em geração!
Não acredito que Deus esteja fora da gente, “vagando” entre vidas e corações, a espreita pelo próximo a necessitar Dele.
E a ciência, onde anda? Segundo a Wikipédia, Ciência é o esforço para descobrir e aumentar o conhecimento humano de como a realidade funciona. Acho que na ciência as crenças estão um pouco mais distantes do que não religião, vista que o homem busca o conhecimento, e em detrimento, a religião, o homem é apresentado a Deus como se Ele fosse o único caminho a seguir.
O grande problema da ciência é a falta de explicação para o inicio. A religião não tem essa preocupação de explicar nada, pois dela ou se aceita ou não.
Na religião, essa aceitação do Divino, por parte do individuo, se chama crença. Perguntas como “no que você crê?” ou “quem é teu Deus?” são mais do que suficientes para abarcar toda uma vida e toda uma existência.
A explicação não faz parte do arcabouço indutivo da religião, pois ela vislumbra Deus como uma entidade acima de tudo e de todos. E não tendo Deus algo que lhe compare em força ou tamanho, por que precisaríamos nos debruçar sobre de onde Ele veio ou de onde Ele é?
A aceitação de haver alguém maior que todas as perguntas e todas as respostas, colocam-nos numa posição, para quem crê nisso, de total supremacia sobre as questões existenciais. Se existimos, é da face de Deus nos oferecer o sopro da vida. Se morremos é do desejo de Deus nos tirar esse sopro. Deus é esférico, sem pontas ou detalhes a serem averiguados.
Já a ciência peca em tentar saborear um pouco da sabedoria de Deus, buscando-lhe comparar ou até mesmo passá-Lo. Não podemos dizer que a ciência não tenha logrado sucesso em criar ou desenvolver mecanismos que coloquem o homem um pouco a frente de seu corpo frágil e submisso aos efeitos do tempo. Tenta a ciência levar o homem até um lugar que ninguém sabe onde fica, nem imagina como o é, mas que com o passar do tempo parece mais perto do que nunca. E do que falo? Da simples e tão atingível por Deus: a eternidade.
O homem é eterno quando faz com que seu pensamento seja maior que sua vida, e transcendendo a sua forma, de forma a deixar para as gerações futuras suas teorias, feitos e ensinamentos. Por muitas vezes o homem já brincou de ser deus. Já passou a mão sobre o inatingível. Mas, infelizmente, não falo sobre boas ações; falo sobre o homem que produz o mal, o homem que causa o mal sem perceber que está sendo cruel e desumano.
Quantas vezes a ciência já criou a morte mesmo sem a intenção de machucar ou ferir? Terá a ciência um valor embutido em suas descobertas que a impeça de transpor os limites da moral ou da ética?
Ética vem do grego “ethos” que significa modo de ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem de “mores”, significando costumes. Mais uma vez encontramos tantas palavras próximas de um mesmo significado. Mais uma vez procuramos em lugares diversos a mesma coisa: o certo e o errado.
Terá Deus deixado para nós as “tábuas” limítrofes da vida? Ou Ele simplesmente nos obstaculizou com o seu sopro ameaçador, dando-nos um aviso: “Sou eu que dou e somente eu que tiro.”
Certa vez Nietzsche disse: "Ensino que a vida jamais deveria ser modificada ou esmagada devido à promessa de outro tipo de vida futura. O imortal é esta vida, este momento." Contemporizaremos, ou que tempo moral ou ético que temos é o tempo do agora? O que hoje na religião é moral, um dia foi imoral; o que temos de ético na ciência de hoje, ontem era absurdamente antiético. Vivemos nessa gangorra entre o tempo em que algo serve a sociedade e o que não serve mais. Tanto a religião quanto a ciência passam pelo tempo como se fossem uma criança, vivenciando cada passagem como uma grande aprendizagem.
Quando Nietzsche diz que o imortal é essa vida, este momento, ele nos fala que temos que vivenciar o nosso presente, que os que hoje prometem e querem a nossa submissão, amanhã nos tratarão com desprezo ou até mesmo nos abandonarão.
Existem grandes leis e grandes dogmas; existem grandes homens e uma única divindade. Esperar que sejam por nós o que nem nós somos por nós mesmo, é esperar por um dia que já passou. A ciência demonstra o que a religião nos faz sentir. A ciência dá o que nós tiramos dela; a religião é a sabedoria da alma, enquanto a ciência é a tentativa do mais saber.
Veja este pequeno trecho bíblico: "Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, chegou-se a ele um centurião e rogou-lhe: Senhor, o meu criado jaz em casa, paralítico e padecendo horrivelmente. Disse-lhe Jesus: eu irei curá-lo. Mas o centurião respondeu: Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa; mas dize somente uma palavra e o meu criado há de sarar. Porque também eu sou homem sujeito à autoridade e tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: vai ali, e ele vai; a outro: vem cá, e ele vem; e ao meu servo: faze isto, e ele o faz. Jesus ouvindo isto se admirou e disse aos que o acompanhavam: Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé. E digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente, e hão de sentar-se com Abraão, Isaac e Jacó no Reino dos Céus; mas os filhos deste reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes. Então disse Jesus ao centurião: Vai-te, e como creste assim te seja feito. E naquela mesma hora sarou o criado."
Quem sou eu para discursar sobre tal texto, mas sou alguém suficientemente esclarecido para vislumbrar o teor magnífico de tal passagem. Vemos a humildade e o valor de vida de quem não precisava ser humilde. Ter valor moral é ter valor sobre a vida; é saber quando e como ser mais ou menos intenso nas relações humanas. Aqui Cristo nos fala o quanto o homem precisa acreditar em algo maior que ele próprio, o quanto o homem precisa se descobrir interiormente. Muitas vezes queremos ir além do que somos, e deixamos de ver o que não somos. O carpinteiro faz da matéria bruta um adorno para os olhos e para o corpo. Cria de onde não havia forma elogiável, um irretocável presente natural.
Vejamos outra pequena passagem, agora do maior cientista de todos os tempos, Albert Einstein, sobre suas convicções religiosas:
“A mais bela e profunda emoção que se pode experimentar é a sensação do místico. Este é o semeador da verdadeira ciência. Aquele a quem seja estranha tal sensação, aquele que não mais possa devanear e ser empolgado pelo encantamento, não passa, em verdade, de um morto.
Saber que realmente existe aquilo que é impenetrável a nós, e que se manifesta como a mais alta das sabedorias e a mais radiosa das belezas, que as nossas faculdades embotadas só podem entender em suas formas mais primitivas, esse conhecimento, esse sentimento está no centro mesmo da verdadeira religiosidade. A experiência cósmica religiosa é a mais forte e a mais nobre fonte de pesquisa científica.
Minha religião consiste em humilde admiração do espírito superior e ilimitado que se revela nos menores detalhes que podemos perceber em nossos espíritos frágeis e incertos. “Essa convicção, profundamente emocional na presença de um poder racionalmente superior, que se revela no incompreensível universo, é a idéia que faço de Deus.”
O homem se utiliza da natureza para fazer seu castelo de ilusões. E a forma com a qual ele molda tal castelo, vai depender da cultura em que ele está inserido. Deus é universal e humano; Ele vem de mim e vai a quem quer senti-Lo.
Deus é moral, universal e humilde. A ciência pode ser ética, restrita e soberba. Mas da nossa parte, da parte humana, somente a nós cabe dar um rumo aos acontecimentos da ciência e aos por menores da religião. Nossa cultura nos molda e nos apara as arestas quando tentamos ser ou fazer o imponderável. Ser isso ou fazer aquilo depende dos valores aprendidos das formas mais diversas. Tememos e ao mesmo tempo infringimos as leis humanas e divinas, sempre tentando esticar mais um pouco a corda da possibilidade. O homem é falho e com ele suas falhas são tidas como realizações de um ser que tenta. Tenta ser mais ou menos deus; tenta falhar sem olhar o horizonte, ou tenta acertar olhando o que o cerca.
Todo predicado é criação do homem. Tudo que vemos é criação do acaso ou de algo que não entendemos. O homem é o santuário divino das ciências e de Deus. Dele sai o que pode ser mudado e o que faz o mundo mudar, mas ele não é capaz de dar nem de criar a vida. Somente a Deus pertence o sopro; o homem é o sujeito de Deus, onde Ele é o verbo.
Da minha parte, não existe humanidade sem Deus, e não há sentido existir Deus sem homem. Não há sentido haver ciência, se a ética e moral não andarem lado a lado, uma tocando a outra. O valor humano é difuso, mas a vontade divina é onipresente.

domingo, 19 de setembro de 2010

Na hora é tarde.

Assim espero que nada mude;
Que menos fale que mais encurte
Que diga tudo, simples e rude!
Por menos choro, por mais virtude;

Que nade abraçadas no meu olhar!
No restrito ser do meu sabor.
Na boca aflita dessas passadas
Esqueça tudo e não diga nada.

Assim espero que chegue à tarde
E que a tarde chegue pra te levar.
Com a boca limpa, coma tua roupa,
E que seja pouca como o teu amor.

Não chegue tarde... Lembro um poema,
Que falava de amor, onde eu morria...
No frio da tarde da noite fria
Eu passo dor com meus problemas.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Mulher,

Andei pensado em suas flores,
E seus espinhos que me matam.
Matam com e cem mil dores!
Matam,e não só apenas matam.

Mentem, pois querem rir de mim!
Sofrem, ao achar melhor assim.
Beijam e com seu suor meticuloso
Enganam num falso gozo...

Como é que se chama isso?
Verdade?! A sua é falsa.
A minha é dolorida.
É tortura, é dor ferida.

É suor de trabalho perdido
É mais que um amor esquecido!
É figura insistente e malvada.

Se queres mesmo ser amada,
Vai procurar noutro jardim,
Já que o amor, pra mim, é rosa,
É suor envolvente

E não apenas uma dor mentirosa
Que todas contam pra gente.

sábado, 14 de agosto de 2010

Solares.

Nunca pude velejar:
Não tinha sol não tinha mar,
Nem vinha vento, nem vinha gente...
Nem amor, chovido, tinha em frente
Seguir, e permanecer me olhando
No espelho da água, viva!
Será o mar? Serei eu o vento?
Não vou passar em esquecimento.
E nem cair em desuso?
É meu o sol e ele lá.
É meu o sol e ele cá.
É meu mar! É meu o mar!
Vem me roubar.
Tirar do esquecimento!
Vem me levar pra perto d’onde está!
Vem, meu desaguar,
Matar minha sede...
Não tinha vento e nem gente vinha,
Pois eu quis olhar a vida
Sem que ele pudesse me olhar.
Não tinha sol, nem sol conhecia,
Pois eu quis secar o mar
Com o sol do acontecia.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Ainda ontem... chorei de... saudade.

É engraçado sonhar acordado,
Como se todos tivessem vivido
Cada um dos dias... Coitado,
Até hoje vive esquecido,

Da dor que lhe matara,
Do amor que lhe parira!
Do sonho que lhe incomodara...
Ainda hoje lhe sobra ira.

É assim vê-La em outro domo.
Noutro abraço espremida.
Brindando com o meu abandono
O amor, morta de vida!

E mesmo no aparente soar,
Do caçoar e dos retalhos,
Continuas como se me deixar

Ainda fosse um recurso,
Impossível de mudar
E infalível em seu curso.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A quem possa interessar.

Negra, enquanto orvalho a dor,
Preterida fonte de acalento,
Faz de mim o teu contento,
Pois outro amor não há.

Rosa, faz perfídia rosa.
Diz que tenho o que te falta;
Agrada com riso, maltrata.
Na mesma hora faz passar.

Vento, entristecido e claudicante
Vem me espera, vem perdido!
Vem parar a minha sede!
Vem clamar o que não digo.

Vem surtar na noite adentro!
Vem roçar, sou teu paiol.
Vem viver mesmo com medo
Na brecha pequena do meu lençol.

Que não reprime teu gemido.
Nem mesmo te esconde do amor.
Sei que não sou tão vivido
Para entender o que não sou.

Mas o que quero nessa morada
É tão claro quanto o breu:
Quero amor e dar a amada...
A quem não tenho, sempre seu.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Engana-te se pensas o que sou.

Vou soprar meu barco rumo norte;
Procurar saltar no vasto resquício,
Pois ao sul, do sol, irei rever a morte
E sua imensidão azul de precipício.

Bem que fosse cavalgar no sombrio
Sem enxergar as partes mórbidas,
Correndo de fronte; batendo de frio,
Nas dunas paradas do coração.

Que vive sim, que vive não;
Que sente vir , que sente paz;
Que vai assim, e pra nunca mais.

E por mais uma vez deixar existir.
Deixar a dor vagarosamente me levar
Ao relento... Ao esquecimento.

Que morre sim. Que sofre em mim.
Que é som sombrio. É frescor.
Vou soprar e nunca mais voltar
Ao sabor amargo do meu amor.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

De volta.

Pelo rio: um mar incontável e forte;
Pela margem: salutar sombra gentil,
Prestes a partir e tudo consigo
Levar antes quem dera abrigo
Ao passo de quem ofertara a morte.

E nesse orvalho torpe e destemido,
Carregada alma mais um belo fardo
Qual prestado de ser menos amargo
Réstia profunda de paixão divina.

Rica prece, pobre e de sabor discreto,
Rouba-me o ar que flui covarde
Réstia da desordem, viva e sem coragem
Teu amor destrói temendo ser tarde.

Quantos passos ainda oferecidos?
Tantos outros ainda a serem dados.
Traz o afago, a mim que já vou perdido
Ao constante mundo do incontestável.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Parabéns!

Quando pequena, ainda vento,
Era um botão de uma minha rosa.
Em tão lindo dia, então formosa,
Rompeste a flor do nascimento.

Em clara noite, vendo teus passos,
Ainda os primeiros da jornada,
Dá-me a lágrima, linda fada,
O condão do amor feito de aço!

Feita de mim! Feita por nós, amor...
Meu bem-querer de tanto verso;
Tanto que o tempo perverso
Tenta, sem sucesso, causar-lhe dor.

Quando pequena, o bebezinho.
Depois menina e não mais criança.
Adolescente e sem “esperança”,

Quando adulta sabe o que quer.
Brota no rosto a vontade, ainda,
De ser a mais linda flor de mulher!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ensinar-me-á.

Terra árida se faz com desespero.
Sem fim é lúdico o explicar decente.
Cobre-me os pés de lama e nevoeiro
No faz-de-conta a sombra do vivente.

Água pura em pedra de rocha batida
Paupérrima sobra de amor divino.
Deus, santo que falha e castiga,
Olha quem perdeu... Dorme sem destino!

Não dá castigo, ele já sofre tantos.
Suor é vago, e dor beneficência.
Olha pelos que não foram santos
E todos os que estão em decadência.

Caídos descompassadamente,
Perdoa-lhes os passos, dá-lhes induto.
Árvore ruim, fruto e semente...
Nessa ordem, fator não altera produto.

sábado, 3 de abril de 2010

Meia-boca.

Quando o mar sopra meu sono
É pra avisar que a noite chega.
Vou do acalento ao abandono
E a noite clara vira negra.

Minha lembrança espatifada,
Sem entender que acontecia,
Foi deixando a boca calada
Sem saber que amor viria.

Seu colo não é mais estada!
Sua boca?! Perdida alegria.
Nas nuances da madrugada
É dor, exatidão e apatia.

Minha rima exacerbada
Carece de ter algum sentido,
Pois vejo, enquanto divaga,
O luar dos esquecidos...

Essa lua inda ontem bela,
Fez sentido como nunca antes,
Vi nos olhos de quem zela
O choro perdido e navegante.

Venha comigo ao deslumbro
Raiar da última morada!
Veja o sol enquanto sucumbo
À sinuosidade da estrada.

Não é de dor, lacera a demora,
Nem de frio que me inquieto.
É de amor, o mais extremo,

Que meu corpo por ti implora.
Implora tanto que desperto
Para outro dia que não lembro.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Um mundo distante.

Quem passa a mão sobre a tua,
Em pequena e delicada procissão,
Vive da duvida que perpetua
A espera do sim ou do não.

Que me espreita delicada figura
Nos sonhos do amor divino.
Embalado pelo som da candura
Do algoz fictício amor angino.

Que pela boca uma vez tocada
O corpo ainda treme de lembrança.
Faz de mim eterna morada
Eterna como esta tênue esperança.

De quem sabe voltar ao teu beijo!
Num sopro do tempo perdido.
Quero agora! Querer é meu desejo
Que guardo num lugar escondido.

Fracionado.

Na boca o gosto amargo da partida,
Ainda o resquício de outrora, foi.
Apenas surrupiou minha chegada
E nesta madrugada, de longe chegou.

Não era mais meu amor, minha vida,
Apenas era um ser de longa vinda,
Um colo que dormiu e morreu.
Um beijo que meu corpo esqueceu.
Um afago que a noite apagou...

Na boca de tantas outras bocas
Meu nome blasfema nosso amor.
Meu ser desaba com a morte,
Pois que da vida sem sorte
Paira-me sobre os dias a dor.

Vai de volta ao que onde nunca esteve;
Cala a sombra que desmente a glória!
Faz a noite! Faz meu grito!
Bem distante de mim! Bem distante.

Ali vai o calo da mente. Vai pra sempre,
Não volte nunca mais.
Faça da minha lembrança a sentença,
Onde fizer sua presença:
“o amor aqui jás”.

segunda-feira, 15 de março de 2010

1000 vezes

Posso não dar razão ao seu beijo.
Nem, às vezes, permitir seu sorriso,
Pois sou insensível ao o que preciso
E sensato ao o que não vejo.

Nem com toques me tocará.
Sua rima é pobre e delicada;
Já disse, não tenta me tocar,
Pois sou o único a sentir nada!

Não tenho frio e nem descanso.
Perdi minhas vontades e alegrias.
E nada delas lembro, perdi-as.

Hoje sou depósito; sou coliseu.
Sou mausoléu da retumbância!
Rio do choro de quem me perdeu
E afago o amor com ignorância.

Clareio o escuro com a morte.
Domo o tempo com paciência,
Pois sei quem me tem por sorte,
O mundo, e sua louca demência.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Meninos e lobos.

Enquanto esqueço de pensar,
De pensar o que fomos,
A vida recai sobre os olhos
E vejo o que somos.

Vejo o que fui ontem ainda
Não tão longe daqui. Amanhã.
Pode ser uma cova ou uma linda
Mulher num longo divã.

E mesmo que tudo termine,
Que tudo ao sabor do hortelã,
Saiba que aqui jamais estarei
Sendo seu último fã...

Vejo que tudo agora é tudo.
Que todo esse tempo parou.
Que toda essa busca é insana
E que em mim, nada mudou.

Ainda conto essas rimas;
Conto de tudo e de todos.
Volto a pensar, volto às esquinas.
Conto os meninos e lobos.

terça-feira, 9 de março de 2010

1055

Vago. Um rosto perdido na rua.
Pele rasgada. Sonolência e medo.
Uivo. Olho. No escuro flutua:
Uma linha. Um brilho. Mas é cedo.

A loucura me carrega nos braços
Dá-me o que de comer. Espero.
Espio e avanço. Quero mais esmero!
Olho. Intuo. Ali não posso ir descalço.

Lá tem vidro. Lá tem fome e briga.
Aqui posso cheirar a fantasia.
Ainda posso inventar a vida.
Mesmo que seja tão rápida alegria.

Mas agora já é tarde. Fica rua!
Calminha ai. Não se mova, eu volto...
E enquanto me espera, flutua
Ao som de saber que amanhã te solto.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Decameron

Raízes de finco bruto que a sede enverga.
Vozes festivas no altar dos mortos, cedo.
Ali, onde não anda mais ninguém, por medo,
Cede à causa liquida e findada que governa.

Antro cáustico das matinas mais permissivas.
Fronte prisioneira do fluente suor plebeu,
Toda e qualquer sonora, aqui ou lá, és meu!
Meu sonho partido, meu lugar sofrido: morreu.

Prata: a sombra que polue no lugar das distancias.
Bronze: suor de linho ao pelar da carne morta.
Pouco se sabe ou nem se quer importa.

Muitos se contentam com o triste passo adiante.
Quisera eu desejar tão óbvio destino , mas
Saber se nada vai por ser, o que nada se faz?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Percurso.

Nessa estrada sem dono.
Nessa colina desterrada.
Nesse alvoroço uníssono,
Essa dor é quase nada!

Esse alívio é passageiro.
Essa dívida, forjada!
Essa estrada de nevoeiro,
Neva sonhos e mais nada!

Prego os olhos na curva.
Prego no pé do sapato.
A vista, focada e turva
Alinha-se mal ao retrato.

A linha desperta o sono
O sono mata o criado.
O criado foge do dono
O dono não manda nada.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A flor que a noite aguarda.

Todo dia, uma flor nascia e um amor morreu.
Mas nem via ou sentia um a outro.
Até que veio um vento forte,
Um som imenso,
Um momento,
Um toque...
Todo dia, um amor nascia e uma flor morreu.

Mas quem diria? Quem ousaria?
Ninguém respondeu.
Nada se ouviu. Nada se fez.
Nada, porém, podia ser:
O mundo hoje foi longe demais.
Naquela noite, naquele toque, algo acabou.

Mas que ninguém prometa, nem amargure.
Todo dia... Toda hora... Todo beijo
Todo rumo perdido... Um afim de sentidos.
Um amor escondido já me basta sentir.
Um toque. E tudo que penso:
Aquela noite, por todo dia...

Todo dia essa flor nascia e ninguém viu.
Houve o toque. Houve o cheiro.
Ouve a caricia e o afago discreto?
Há muito eu havia,
Mas quem mais ousaria?
Um velho bordão usaria:
Por que não eu?

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

...se o futuro é a morte?

Perdido na noite; perdido no dia;
Não importa a hora nem a dor.
Não importa a vida nem a cobiça,
Pois quem age em preguiça,
Nem que a demora seja ligeira,
A hora da morte é passageira
E a da dor é bem vista;
A boca da noite é revista
Que se lê aberta.
Que nos fala sem demora,
Que nos visita sem pressa;
Avalia o que nos resta,
Alivia o que nos mata.
Dá-nos fortuna e arrebata
Para tão longe quanto se vê...
Lá pelos fins dos dias,
Lá pela boca da noite,
No calar do açoite,
No soar do badalo,
Abre-te num longo estalo:
A cortina findoura.
É a hora das horas;
O matizar das viúvas;
O crepúsculo da aurora;
A hora da hora.
A cena passageira.
Que mesmo ligeira,
Que mesmo sem graça,
Desce em pranto e desgraça.
O que nos resta agora?
Cinza e rebeldia, contida e contada;
Morta e dizimada
Pelo condão da fortuna!
E por ver que algo nos resta...
Assim como no inicio,
É tudo conversa!
De onde não estamos por apego?!
De onde fincamos os corpos,
De onde morremos e mortos
Somos dizimados!
O último suor deixado,
A eternidade ser levado.
Agonizo pelos pecados
De uma vida pregressa,
Onde ser vivo é preguiça
E preguiça é meu nome!
Mas dizem ao velho homem:
Pra que pressa...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Encontro rio no mar.

Enquanto eu escondo meus sonhos, você se mostra em vida;
Enquanto eu vôo pelas nuvens, você caiu pelas calçadas;
Enquanto eu saboreio o sol, você amarga noites sombrias;
Enquanto eu vago pelo céu, você se destrói nesse deserto;
Enquanto eu rio na minha cama, você, inerte, chora no chão;
Enquanto eu passo pela dor, você vive nela se destrói;
Enquanto eu sou o que sou, você não aparenta o que é.

E quando eu fujo dos problemas, você encara-o livremente;
E quando eu choro pelos cantos, você encontra as soluções;
E quando eu caio e quebro a mão, você me levanta como sempre;
E quando eu olho o teu rosto, você não é mais a mesma pessoa;
E quando eu sinto tua face, você se afasta de mim;
E quando eu tento agarrá-la, você só me deixa um adeus;
E quando eu volto à realidade, você já me esqueceu.

E quando o rio colhe minha alma,
A tua lembrança me é pertinente,
Solto o grito na mais pura calma
Como se gritar fosse decente.

Como se algo eu pudesse romper
E essa força quebrasse a corrente!
E nesse ciclo e pudesse rever
O que mais ainda, eu passe a ser gente.

No escuro, na calma destituída,
Morre enquanto passo pela dor.
Uma tal que corrói a vida
E a vida perde o seu real valor.

Passaria, enquanto olho teu rosto,
Mais um dia, enquanto perco tua mão,
Inerte, sem provar do teu gosto,
Sem saber o que é machucar.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Hoje to meio assim...

Pele de cordeiro, orelhas de lobo.
Coração de guerreiro, na boca da noite.
Chama-me coração, de novo,
Não sabe que durmo?!
Nem imagina que sonho?!
Pele de besouro, orelhas de gavião,
Olhos que se dilatam, provocam este tolo.
Emoção que se esvai, olhos que vão;
Permito sem permissão.
Prevejo sins e nos nãos, mas está por lá.
Deixado sem dono, alvejado por tudo.
Cravado de inocências desumanas,
E de humanas inocências...
Pele voraz, insano algoz,
Coração diabo sem dono e sem lei
Faz o que diz, quer o que quer.
Dá-me um nome! Dá-me!
Nem que seja passageiro; ligeiro,
Meus sonhos estão acabando!
Preciso me decidir onde vou parar.
Meu pra sempre está perdido,
Lá, no mausoléu da fome.
Pele de cordeiro, orelhas de pedra,
Escutas meu nome, e o que vês?
Nada. Eu sei. Vezes e por vezes a sua procura.
A saber: já foi minha cura
Já foi o meu querer.
Nem sei do que falo, nem o que não digo,
Mas tem alguém aqui por dentro me pedindo.
Tem alguém implorando o silencio.
Mas mesmo que exista
O silencio nunca é real;
Meu coração dispara e diz que está por ai...
Não sei onde e nem se está bem.
Passo por peles de todas as peles,
Mas só a tua me chega.
Só a tua me implora pra ficar.
Não a quero, mas ela me quer!
Você me quer, mas ainda...
Ainda não vê o que eu vejo e nem sabe.
Pele de cordeiro?! Já fui e tive.
Hoje sou réptil trocando a pele.
Passando por dores e sacrifícios.
Minha alma nem mais tenho,
Perdi quando a desejei.
Mais um amor ou apenas um par de mãos?
Sobrepostas e intocáveis!
Pele de cordeiro, orelhas de trovão.
Besouro que veste rubro,
Amor que veste o veneno.
Já foi pequeno, hoje é gente.
Com rosto e fama suficiente,
Pra fazer o mundo parar.
Mesmo estando por todos os lados,
Ainda vejo uma fresta que o sol inclina.
Seu poente sorriso e seu beijo nunca sentido;
Sem nunca tocar sei que gosto.
Sem nunca olhar, sei o que vejo.
Sem nunca sentir... Isso não posso falar.
Sinto-lhe pelos dias que não tenho o seu sabor.
Pele de anjo, pelo céu se finda.
Diz que vai estar linda quando encontrar o céu,
Não o que Deus mora, mas o da minha boca.
Diz que vai estar com esse cheiro que sinto agora,
Não o da saudade, mas o da verdade:
Hoje to meio assim... É por mim?
É por tudo? É por nada?
Mais um coração, ou mais um pedido em vão?
Pele de nuvem que esconde meu sol,
Se for pra ser eclipse que seja o maior de todos!
Se for pra ser sincero que seja por um minuto,
Pois meu coração não agüenta
Mais um dia assim sem você.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ih, deinha...

Somos sementes no mesmo barro
Nascidas do mesmo chão.
Trocamos certeza pelo acaso
E muitas vezes, sim pelo não.

Colhemos frutas com ou sem casca
Na beira-rio de qualquer nascente.
Pra não lembrar as saudades
Que nos esperam pela frente.

Que nos entregam a sentimentos...

Vivemos como tristes covardes,
Fincados na terra do medo!
Com o mesmo nó da liberdade
Amarrado no corpo ”azedo”.

Ouvindo mais uma chegada;
Ouvindo mais um sermão:
“Quem dera sorrir nos sonhos
E deixar de lamentação “...

Quem dera ter o amor agora,
No raiar tardio da plenitude.
Mas meu pensamento vigora
Só com vontades e nada de atitudes.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

24 horas.

Minha distância; minha reluta inconstância.
Meu trabalho mal pago. Minha bruta esperança;
Meu relato aplicado, dizem que já passou.
Terminou. Acabou. Redimiu. Acabou. Lutou?!
Nem tanto e pra meu espanto, meu descrê enjoado,
Tudo ainda pode ser nada e nada, agora, é nem tanto,
Que para o pobre coitado, para o pobre e vagante,
Nada é melhor do que antes, que nada havia lá.
Do quê falo? Do que rio? Lágrimas? Estio?
Alívio? Relutância? Descrença? Abundância.
De fatos e relatos. De gritos e sussurros.
Grotas e murros; pedras e viradas, punhos e punhaladas.
Enredos e cantos. Rios e prantos. Rumas e molhadas
Rotas de fuga, rotas de surra, rotas de nada.
Não há caminho a seguir, nem caminho a perder.
Não há lá ou aqui; eu ou tu. Nós ou...vozes ao fundo....
Nozes ao mundo! Eles sabem da verdade, mas minha distância...
Pobre fragrância, podre agrado que reluta em ser mal pago,
Não redime e nem prospera... Espera! Isso sim faz sentido!
Espera comigo. Tenho medo de estar só.
Tenho medo dos homens. Tenho medos das mulheres.
Tenho copos e colheres, queres? Me queres? Espere.
Tolere meu hábito imundo, de olhar nos olhos do mundo
E saber quem sois. E que não há caminho a seguir,
E nem rosto a lembrar. Não há, não há. Sei que vi, mais ali.
Lá. Vá! Corra, ainda é tempo! Nada vai ser como antes!
Nada vai surgir de novo. Nem tanto e pra meu espanto:
Pobre coitado vive exilado. Deste lado, do outro lado;
Naquele porão imundo, fedido e confuso. Será escravo?
Será doente? Será descrença? Será que será?
Vozes ao fundo: “O que dizem as punhaladas?” Nada. Nada.
Nada e não chega a lugar algum. Nada, nada, nada,
E só vê o lugar comum. Vaga, vaga, vazio e transparente, nem sabe
Nem sente nem imagina o frio que faz. Não sabe onde fica,
Não sabe aonde vai. Vai sem querer ir. Vai pra onde quiser ir.
Vai. Apenas uma última tragada... Não sabes de nada e nem queiras prever,
Pois quem mata o tempo, mal tempo pode ter.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

“Malagradecidos”!

Movam os discos empoeirados da vitrola.
Que tantos discos são estes? Servem ainda?
Servem pra sentir os dedos no passado,
Servem seus donos como finco a nostalgia.
Carecem de sabor e enegrecidos de poeira
Passam tempos e tempos sem mover...
A máquina que não redemoinha.
A sorte que esquecida pela “engancho”
Vai de vento em vento num suave redemoinho...
Olha como roda... Olha como me olha!
Vem distante seu sabor, ainda esquecido,
Deixando-me sem palavras, mas com saudade.
Dos bailes. Das marchinhas. Dos pierrôs.
Das noites sem tanta luz. Do mudo som da noite.
Das roupas que tanto me serviam. Do luar.
Do gelado e enegrecido sabor da vida.
Aonde os tempos bons foram?
Por que me deixaram aqui pra morrer de saudade?
“Malagradecidos”! Tantos que lhes dediquei...
Uma vida inteira “de vitrine”!
Querendo-os e sem ver que o tempo passou,
E não pude comprá-los. Nada pude fazer e tê-los.
Atrás de mim passou o tempo. Passou a banda.
Não existe mais praça. Foram-se as modinhas.
Acabou pirraça. Morreu Colombina. Morreu Amélia.
João se foi; se foi José. Passou a vida,
E eu só consegui ficar, aqui, em pé.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Ontem perdi algo...

Trazia em mim; deixava comigo.
Era parte de tudo que tinha!
Era parte de uma parte especial...
Era um dia; eram todos os dias.
Era uma vida; era uma única vida.
Mas como deixei passar?
Muitas dos dias não podemos vencer.
Como deixei perder?
Muitas das lágrimas são sem querer.
Deixei me iludir tão fácil, por quê?
O coração não pensa, age.
Bate sem deixar escolha! Age!
Reage e não se deixa enganar.
Ele não pensa, lembra?
Ele não sente, lembra?
Ele se entrega, sente?
Ele morre pelas noites...
E sem querer saber se vai viver.
Não tem instintos de sobrevivência,
Nem sabe que dia é agora,
Ou nem liga se alguém esquece...
Mas bate. Bate sem saber por quê.
Sente quando perde algo.
Para quando quer entender os dias.
Cai quando quer viver melhor.
Chora quando passa a vida chorando.
E esquece quando era pra lembrar:
Nada vale um dia sem ele;
Nada ilude o coração cheio de amor,
E ninguém o perde por um dia de vida.
Nada substitui algo perdido,
Mesmo que seja algo insubstituível.