Nossa vida
é um espelho do mundo em que vivemos. Um microcosmo e uma pequena amostra seja
ela de bondade ou de maldade. Minha vida é sabida por quem não me conhece e
querida por quem sabe quem sou eu. Durante esses quases dois anos que estive na
convivência de grandes amigos na faculdade, aprendi que não temos quase nenhum
amigo de verdade.
Minha
relação com meus colegas de sala é amórfica. Minha vida é, com eles, sem muita
vivência, mas de muito aprendizado. Sou assim, distante. Sou assim, parado,
quieto e educado. Sou professor e me julgo ensinante. Não estou em lugar algum
para aprender se eu não quiser. Na faculdade eu pago para ser bem tratado! Não
pelos corredores, portas, maçanetas ou espelhos, mas pelos funcionários, que de
certa forma eu pago.
Quem não
me conhece sabe quem sou eu. Imagina que ali, somos alunos e distantes, mas
não, somos pagantes. Assim como em um ônibus; assim como em uma pizzaria, ou
padaria; assim como em qualquer lugar onde existe essa relação de “eu preciso”
e ”você me atende”. Não estou na faculdade, pagando, para ser maltratado. E não
maltrato ninguém. Nunca. Jamais.
Meus
colegas de sala sabem que sou eu, vulgo “Carlão”. “Esse bicho é doido”, diria
um amigo.
“Você e
suas coisas” diria outro. Mas nenhum deles seria capaz de dizer o sentimento
pelo qual passei ontem em sala de aula.
Não sou um
aluno que serviria de exemplo, mas sou um aluno exemplar. Não tenho vaidade de
ser o melhor aluno ou o mais querido pelos professores. Poucos são os
professores que merecem serem chamados de PROFESSORES. Mas os poucos bons
professores que ostentam esse título, fazem-me esquecer dos ruins que não
merecem serem chamados como tais. O melhor professor da instituição FCRS que eu
conheço, também foi o que me faz pensar sobre qual o objetivo da faculdade de
Direito; uma frase que ele disse logo na primeira aula do primeiro semestre: “Aqui
não é o mundo lá de fora”. Aquilo foi transcendental.
Pensava eu
que não poderia haver cura para o mal, sem usar o próprio mal como matéria
prima. Não há como encontrar cura para algo que não tenha vindo dele próprio!
Como eu poderia mudar o mundo sem olhar para dentro dele? Como poderia esquecer
o mundo que me maltrata e me magoa? Iria viver aonde? Como eu disse, isso veio
do professor que eu mais admiro na instituição; um cara que não faz chamada,
mas que quer que deixamos nossa presença no mundo irreal! Ele está certo, pelo
menos na visão irreal das coisas.
Eu sou
melhor que qualquer pessoa daquela faculdade, pois é assim que certos
professores me viram. Sentiram-se magoados ou tocados por alguém que eles
achavam conhecer melhor do que ninguém! “Somos intocáveis e não aceitamos
sermos contrariados”. Mas eu, “professor”, sou melhor do que o senhor, pois lhe
tratei de forma justa e a luz da minha justiça. Justiça essa que eu conheço por
educação.
Ontem
enquanto eu esperava começar a prova (AP2) de Direitos Humanos, tentei não
ficar em sala enquanto não fosse necessário. Só adentrei na sala quando já
vinha o professor. Ele chegou, olhou pra mim e foi guardar suas coisas na mesa,
lá na frente. Voltou e me perguntou o que eu fazia ali sentado, ocupando o
espaço dos outros (pasmem!). Eu puxei fôlego e fui o mais breve e calmo
possível, e disse que apenas esperava por fazer minha prova. Ele disse que não
sabia pra que eu ia fazê-la, a prova, pois ele não abonaria minhas faltas. E eu
perguntei se eu não tinha esse direito de fazê-la. Ele parou, olhou e disse que
não fazia a menor diferença se eu ia fazer ou não...
O que eu
poderia ter feito para tanto? Postei neste mesmo Facebook uma crítica a atuação
do professor contra minha colega de sala. Colega essa, mãe e acima de tudo, minha
estimadíssima amiga. No dia em que tentei defendê-la, ela estava errada, pois
tentava “pescar” na prova dele. Ele não titubeou e arrancou de suas mãos o
mundo irreal, trazendo-a ao mundo real. Eu pensei como poderia ser assim? Onde
estão as liberdades e garantias do ser humano? Irônico, não? Onde está o
direito do ser humano, estudante, em exercer sua função laboral? Eu só estudo,
então minha profissão é ser estudante. Não aceito ser maltratado como fizeram
com minha colega, que após o acontecido em sala de aula. Ela, nos jardins
suspensos da FCRS, sucumbia em prantos naquele dia. Eu não poderia deixar
assim. Ela errou? Sim. Mas não precisava passar pelo que passou. Aperto, pois a
sala estava lotada, assim como ontem. Humilhação pública. Motivo de chacota. Não
existia o crime de fraude em concursos (Lei 12.550/11) até dia desses, imagine
o de fraude em prova de faculdade!
Estive
olhando no sistema da FCRS minhas faltas e não tive faltas até o mês de março,
e olha que foi a época em que eu mais faltei! O professor disse que eu poderia
fazer a prova e que nada adiantaria, pois ele não abonaria minhas faltas. Eu não
poderia ter ficado doente, ou qualquer outro tipo de problema? Por que ele veio
logo dizendo isso, que não abonaria minhas faltas?
Quem é
mais criminoso aqui? Eu claro, pois defendi os direitos do mundo real. Direitos
esses os quais cresci e vivi vendo pessoas “intocáveis” usurpando-os de pessoas
de menor valor humano. Eu estou e sempre estarei do lado mais fraco, pois é lá
que me sinto pequeno e com a possibilidade de ver o quão grandioso é a obra de
Deus. Enquanto, outras pessoas vivem em um mundo criado por eles mesmo. Em um mundo
distante da realidade e do sofrimento de quem faz tudo isso acontecer.
Parabenizo-me
e saúdo-me por ser quem sou: um amigo admirado e aclamado pelo silêncio dos
corredores, dos quais espero jamais voltar.