quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

A periclitante situação do serviço publico


Não é fácil ser prefeito. Muita gente pedindo, muita gente que não simpatiza com você e que não votou em você; mais gente ainda que ganha pouco e faz menos ainda; e uma imensidão de outros tantos que lhe apoiaram e querem uma vaga no serviço público.
Tem muita gente que ajuda e mais um tanto que atrapalha. Eu, servidor público municipal, quase 10 anos sentadinho no meu canto, em isolamento social rígido a quase 7 anos, vou observando.
Não sou um caso a se pensar, sou ínfimo diante a massa de servidores municipais. Uma gota d'água num oceano de “quereres” e sentimentos administrativos. Mas eis aqui, e não posso deixar de ver, o problema: a falta total de IMPESSOALIDADE. Cabe a todos que prestam serviço público serem impessoais. Esse é, pra mim, o maior e o grande infinito mega super maximo problema que afeta a relação de amor e ódio, entre o “rei” e os, literalmente, vassalos.
“As ondas do rádio” se calaram. Elas, logo elas, paladinas da verdade e do interesse público, perseguidora implacável do maldoso ex-prefeito, que por sua vez, era perseguidor contumaz dos concursados, que ainda hoje, alguns deles, esperam para ocupar seu lugar ao sol…
A glebe negacionista, como se dizem “aqueles que amam cegamente seus líderes"...opa, perai, englobei petista e bolsonaristas numa só frase? Sou um gênio da obviedade! Voltando, esses aí de cima, negacionistas da realidade, são a ala babão nos bons costumes e oposição nas vacas magras. Pobres e coitados. Indulgentes da coisa pública. Pessoais no poder e impessoais na oposição. Fazem tudo pelo povo e por aí vai a piada…
E os que se calaram subitamente? Nem mencionarei para não atrapalhar o texto.
Eu vivo dizendo: o eleitor é aquele que uma vez a cada dois anos é obrigado a ir votar. O cidadão é aquele que vota e tem consciência de cuidar, pastorar, falar mal do administrador/vereadores, fiscalizar a coisa pública e por aí vai!
Vejo tetos tentando cair na minha cabeça a tempo demais. Passa prefeito, entra perfeito e continuam me dizendo que “esse teto vai cair”. Acreditem, literalmente. Mas ser ninguém tem suas vantagens: ninguém te vê, ninguém lembra de você, ninguém enche seu saco e quando vierem encher, mande-os chupar caju!
Mas existem grandes e verdadeiros trabalhadores no quadro efetivo municipal; gente que veste a camisa da coisa pública; os que varrem a rua, faça chuva faça sol, aqueles que recebem sempre atrasado, mas que a culpa é sempre da empresa que não pagou. Há os que estão a dois anos enfrentando a pandemia, correndo risco de contaminação. Há os que não tem hora para descansar, são chefes 24hs por dia, a postos, diante os problemas e o caos que é o serviço público municipal…
Não há neles a vontade de enriquecer às custas do erário. Não há neles homens ou mulheres, petistas ou bolsonaristas, mas apenas a missão de ajudar o cidadão quixadaense. 
Você, servidor público municipal, deve conhecer algum servidor altruísta; alguém que vive para servir o povo. Alguém que não tem abuso do atendido, que vê o povo como patrão e chefe, cliente da coisa pública.
Se você não conhece, uma pena. Talvez seja por isso que sua classe seja tão humilhada, vivendo ao bel prazer do prefeito que sai, do perfeito que entra.
Talvez nos falte uma consciência do que realmente é servir ao senhor da rua, o povo e não apenas ao nosso ou ao interesse daquele que te deu um cargo e a incubencia de babá-lo, na saúde e na doença, no burado das ruas apagadas e escuras, até que o mandato dele acabe e venha outro lhe tentar, usar e, mutuamente, jogá-los fora.
Lembre-se: quem mandou votar no homi?

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

A morte como um acontecimento inevitável.

Por mais que eu não demonstre tanto assim, escrevo bastante, sobre tudo e sobre todos. Algumas palavras minhas só serão lidas pós-morte. Tenho um, digamos, diário gráfico e outro filmatográfico. Gosto de falar com meus sentimentos, mas, com o tempo, não por eles. Não sabemos o que há do outro lado dessa porta da vida. Morrer é uma passagem dolorosa, principalmente, como pude aprender com a morte de meu pai, para os enfermos. 

Nunca parei para falar sobre a morte como um fim; para mim, esta, é muito mais que um acontecimento, é um acontecimento inevitável. E por que não estamos preparados para ela? Negligência, soberba ou apenas medo mesmo? Nenhuma coisa e nem outra, não é natural nos prepararmos para ela. Não é natural esperar o fim, seja ele o nosso ou o dos outros.

A própria vida trata de negligenciar a morte. Não há como viver e pensar que um dia todos morreremos. Você pode até pensar nisso, vez por outra, mas será de uma forma romantizada ou olhando para um futuro distante. Não há nada como o agora.


Dentro de todas as caixas da nossa vida, haverá essa cobra venenosa, pronta para fincar seu veneno no nosso destino, a tirar-nos a vida. Desfalecidos, entorpecidos, os olhos semiabertos, aquela luz inebriante que nada nos diz, os sons abafados e inauditos, rostos tão perto de nós, mas ao mesmo tempo tão indescritíveis…poderá ser assim, mas não sei se é ou será; ninguém sabe.


Vi por quase 45 dias meu pai deitado no leito de morte. Eu não sei se ele sabia que ali seria seu fim, mas eu sabia e estive em paz com isso até chegada a hora. Segurei sua mão e vi seu último suspiro. Tudo que tinha para dizer eu disse, mas não naquela hora ou nos dias anteriores. Errei, acertei, "enchi o saco", dei sorrisos e aprendi, mas não naquela hora, nem naqueles dias, fiz isso antes.


Assim faço com todos, todos os dias, dou o máximo da minha presença, seja ela boa ou ruim. Não sou a pessoa mais agradável do mundo, mas não sou o tipo desagradável. Não sou mais ou menos, sou tudo ou nada. Aprendi com quem nunca me ensinou e vivo como quem nunca deixou de aprender.


Mais uma perda, inominável, mais um acontecimento, inevitável. Pessoas choram, sentem falta, se culpam ou mentem para si: “podia ter feito mais…” Não, não podia. Você fez tudo que queria e o que acha que não fez, não era para ter sido feito. O maior consolo para quem perdeu alguém que amava, está nas lembranças dos dias bons e ruins; está na “timeline” que é a vida, sem tempo para recomeçar. 


Nessa vida, que conheço e na que todo dia me despeço, nunca vi finais felizes e nem adeus com lenços brancos em acenos. Sempre vi cabeças baixas, olhos fluidos, caixões e cemitérios. Nunca me senti tão em paz com todos os dias que fui eu mesmo. Nunca precisei dizer adeus a ninguém, pois, na presença ou na ausência, todos souberam/sabem quem sou eu.