Não costumo medir-me pela
régua dos outros, mas um dia como o de hoje, o tal dia dos pais, é um exemplo
que carrego da hipocrisia que vivemos.
Falamos muito de respeito
pelas pessoas, de amor ao próximo e tantos outros bla-bla-blas que tentam e
conseguem nos enfiar goela abaixo. Passaria aqui horas citando, mas prefiro
pular esta parte.
Num desses dia dos pais, cheguei
pro papai, já sabendo que ele odiava esse tipo de demonstração e falei: “meu
pai, deixe-me lhe dar um abraço e felicitações pelo dia de hoje”. Ele ficou
olhando e automaticamente se encolhendo na cadeira a medida que eu me
aproximava, ele ficou tão pequeno na cadeira que quase era ele a me felicitar!
Brincadeiras a parte, ele disse assim: “não sei porque você está me felicitando,
eu errei tanto...” Eu não contive a risada e ele também não.
Na segunda-feira, como de
costume, o grande irmão e meu segundo pai, Bentino, chegou meio dia pra tomar
aquele café. Sempre parávamos ali na cozinha para papear e aproveitei e disse
ao Bentino do ocorrido de ontem, assim: “ Pois é Bentino, ontem, dia dos pais,
fui dar um abraço ai no papai e ele disse que tinha errado muito comigo”.
Bentino, engraçado e tirador, disparou sem pena em minha direção: “Negrones, eu
seguro e tu abaica!”
Eles queriam me bater! Kkkkkkkkkkk
A risada foi geral.
Fui aquilo para quem foi, não
há hoje homenagem que desfaça o que fiz ou o que deixei de fazer; o que está
feito, está feito! Não foi perfeito e jamais será ou seria. Por isso temos que
pensar nas pessoas e em nossas atitudes para com elas, independente de quem são
ou que dia é.
Basear um amor e uma dedicação
a um único dia, é, no mínimo, uma baita hipocrisia. Hoje não é, pra mim, nem de
perto um dia a ser lembrado. Tanto faz acharem que é dia dos pais, das mães ou
dos filhos, importo-me com aquilo que estou fazendo e principalmente com aquilo
que deveria fazer e não estou.
Nessas horas, gosto de citar parte
daquela música, quando eu me chamar saudade: “se alguém quiser fazer por mim,
que faça agora...depois, quando eu me chamar saudade, não preciso de vaidade,
quero preces e nada mais...”
E é assim que gosto de lembrar
daqueles que partiram: alegremente e diariamente. Não preciso postar nada nas
redes sociais, pois tenho consciência que apenas o meu ego estará vendo.
A lembrança é um coração
pulsante e não um coração partido, pois se partido está, dói; e se dói, algo
foi feito errado, mas o passado, ninguém pode mudar. No mais, cada um responde
pelo que fez e pelo que deixou de fazer. Assim como cada um responde pela dor
que carrega. E sobre o dia de hoje, a mim não diz nada.