domingo, 13 de agosto de 2023

Em respeito a minha própria hipocrisia

 



 

 

Não costumo medir-me pela régua dos outros, mas um dia como o de hoje, o tal dia dos pais, é um exemplo que carrego da hipocrisia que vivemos.

Falamos muito de respeito pelas pessoas, de amor ao próximo e tantos outros bla-bla-blas que tentam e conseguem nos enfiar goela abaixo. Passaria aqui horas citando, mas prefiro pular esta parte.

Num desses dia dos pais, cheguei pro papai, já sabendo que ele odiava esse tipo de demonstração e falei: “meu pai, deixe-me lhe dar um abraço e felicitações pelo dia de hoje”. Ele ficou olhando e automaticamente se encolhendo na cadeira a medida que eu me aproximava, ele ficou tão pequeno na cadeira que quase era ele a me felicitar! Brincadeiras a parte, ele disse assim: “não sei porque você está me felicitando, eu errei tanto...” Eu não contive a risada e ele também não.

Na segunda-feira, como de costume, o grande irmão e meu segundo pai, Bentino, chegou meio dia pra tomar aquele café. Sempre parávamos ali na cozinha para papear e aproveitei e disse ao Bentino do ocorrido de ontem, assim: “ Pois é Bentino, ontem, dia dos pais, fui dar um abraço ai no papai e ele disse que tinha errado muito comigo”. Bentino, engraçado e tirador, disparou sem pena em minha direção: “Negrones, eu seguro e tu abaica!”

Eles queriam me bater! Kkkkkkkkkkk

A risada foi geral.

Fui aquilo para quem foi, não há hoje homenagem que desfaça o que fiz ou o que deixei de fazer; o que está feito, está feito! Não foi perfeito e jamais será ou seria. Por isso temos que pensar nas pessoas e em nossas atitudes para com elas, independente de quem são ou que dia é.

Basear um amor e uma dedicação a um único dia, é, no mínimo, uma baita hipocrisia. Hoje não é, pra mim, nem de perto um dia a ser lembrado. Tanto faz acharem que é dia dos pais, das mães ou dos filhos, importo-me com aquilo que estou fazendo e principalmente com aquilo que deveria fazer e não estou.

Nessas horas, gosto de citar parte daquela música, quando eu me chamar saudade: “se alguém quiser fazer por mim, que faça agora...depois, quando eu me chamar saudade, não preciso de vaidade, quero preces e nada mais...”

E é assim que gosto de lembrar daqueles que partiram: alegremente e diariamente. Não preciso postar nada nas redes sociais, pois tenho consciência que apenas o meu ego estará vendo.

A lembrança é um coração pulsante e não um coração partido, pois se partido está, dói; e se dói, algo foi feito errado, mas o passado, ninguém pode mudar. No mais, cada um responde pelo que fez e pelo que deixou de fazer. Assim como cada um responde pela dor que carrega. E sobre o dia de hoje, a mim não diz nada.