quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Vergonha: um esporte nacional.

Em 1º de Maio de 1994 o Brasil perdia um dos seus maiores ícones do esporte, Ayrton Senna. Em um trágico acidente no circuito de Ímola, o tricampeão mundial bateu seu carro contra o muro, na famigerada curva Tamburello. Uma comoção nacional/internacional se formou. Milhões choraram uma dor coletiva e irreparável. O automobilismo brasileiro jamais se recuperaria do ocorrido...

Mas o que isso tem de “Vergonha”?

Eu não saberia falar pelos holandeses ou japoneses, mas posso falar pelo brasileiro em geral que é, além de trabalhador: mentiroso, egocêntrico, “cego” politicamente e por, não raras, exceções, desonesto.

Somos o país do jeitinho. O país onde os criminosos têm vez. Onde até mesmo o esporte é motivo para sermos pelo lema nacional: Farinha pouca, meu pirão primeiro. Lema este que poderia estampar muros de casas de cidadãos comuns, até mesmo a faixada do congresso ou de certos tribunais.

Trazendo a coisa ainda mais para perto de nós, o glorioso Fortaleza Esporte Clube, passou, salvo engano, 8 anos na série C do campeonato brasileiro. Era motivo de mangofa, ridicularizado ano após anos. Isto tudo passado, com seu maior rival na série B...

Conseguem ver aqui o mote do texto? Se não, vou esmiuçar ainda mais.

O ex-presidente Lula, preso em abril de 2018, era presidente de 2003 a 2010. Após lotear estatais e se consolidar com mais de 70% de aprovação, quando saiu do governo, foi acusado de enriquecimento ilícito e afins.

Conseguem ver aqui o contexto do texto? Vamos adiante, no miúde...

Jair Bolsonaro, com o meu e o voto de quase 58 milhões de brasileiros, foi eleito presidente em 2018. De lá até aqui, o máximo que fez, pelo menos é o que dizem, foi não roubar tanto quanto seus antecessores.

Aí você se pergunta qual droga estou usando para num texto só! Colocar Ayrton Senna do Brasil! Fortaleza Esporte Clube, Lula e Bolsonaro...

Pois é, o Brasil, como todo e qualquer país, é feito de altos e baixos morais. Vemos orgulho no tricampeão, mangofa com a desgraça alheia e cegueira, ou até mesmo, escolha entre um ruim e um menos ruim!

Nos faltam opções ou “é isso mesmo”?

Ficamos animados quando nosso time ganha com gol impedido e validado pelo VAR. Fazemos malabarismos para explicar o motivo do nosso candidato, agora eleito, estar ladeado com o que há de mais fisiológico na política. Tentamos explicar e culpar, qualquer um menos o responsável, pelo preço de tudo estar caríssimo! Tentamos dizer que um único ministro do governo Lula, devolveu mais de R$ 100 milhões e o atual ex-presidiário está solto e é inocente!

Ficaria anos catalogando o “jeitinho brasileiro”, mas não há motivos para tal.

Ayrton Senna era rico pelo esforço dele. O Fortaleza chegou a ficar em 2º colocado no atual campeonato brasileiro. O Lula não é e nunca foi inocente. E Bolsonaro...é olhar o preço do supermercado.

Claro que vamos dizer que a culpa é STF, ou do muro na curva Tamburello, mas jamais diremos ou faremos nossos mea culpa por sermos cegos ou vermos que existe um limite entre nós e a realidade que é intransponível.

Senna não teve culpa pelo muro estar ali. Aparentemente, foi a barra da direção que quebrou e havia um muro e a morte.

O Fortaleza soube esperar sua hora; passou por presidente ruins, torcedores sofridos e treinadores “burros”. Mas só quando alguém veio e acertou,  este foi tratado como herói. Imediatismo.

Lula fez muito pelo povo. Fez tanto que o povo esqueceu e viu que ele e seu amigos não eram tão bonzinhos assim. E ainda dizem que: aquela justiça que condenou, era injusta. E a mesma que disse que o juiz Moro era incompetente e suspeito para julgar o ex-presidente.

Bolsonaro vai por aí, não rouba, mas também não faz. Não sei se ele é ruim, burro ou apenas incompetente.

Também não sei se não sei votar ou se não temos opções. É bater no muro ou seguir tentando. É ser correto ou ser esmagado pela falta de consciência coletiva que assola o país.

Não sei como é na Holanda ou no Japão. Dizem que a maconha é liberada na Holanda; aqui é ilegal. Dizem que políticos preferem a morte, a serem vistos como corruptos, no Japão.

Dizem que o Lula é inocente e o Bolsonaro é genocida. Ninguém no Brasil conhece a própria história, menos ainda a mundial.

Martin L. King foi preso algumas vezes por lutar pela igualdade entre negros e brancos; e era inocente.

Ele, até aqui, não havia aparecido no texto, pois o texto é uma mostra de que existem pessoas além do nosso tempo, que morrem tentando superar suas próprias limitações existenciais, no sentido de dar a coletividade um sentido de união e persistência por ideais.

Nós, humanos, somos a ralé da natureza. Consumimos tudo e destruímos até mesmo aquilo que inventamos: a moral. Fazemos coisas erradas conscientes, mas, por vezes, para o simples fato de nos dar bem sobre os outros, impondo nossa perspectiva, congratulando-nos com o errado.

Quantos Sennas surgiram? Quantos Pelés tivemos? Quantos políticos foram santos e quando nós, eleitores, tivemos razão?

Né?

Quantos jogadores foram geniais, e quantos técnicos foram burros? Os anos passam e nós vamos numa introspecção moral sem limites. Vamos até o mais baixo dos horrores, como agora, na atual situação de “caridade” dos combustíveis e da comida cada vez mais caros.

No entanto achamos normal. Vamos esquecendo os que roubaram e os que não fazem e nem roubam. Não temos mais limites para a vergonha. Este é o Brasil do centrão, que um dia foi a terra dos índios.

O que mudou de lá para cá? Ladrões, apenas; eis o que somos, uma vergonha.