Em 1º de Maio de 1994 o Brasil perdia um dos seus maiores ícones do esporte, Ayrton Senna. Em um trágico acidente no circuito de Ímola, o tricampeão mundial bateu seu carro contra o muro, na famigerada curva Tamburello. Uma comoção nacional/internacional se formou. Milhões choraram uma dor coletiva e irreparável. O automobilismo brasileiro jamais se recuperaria do ocorrido...
Mas o que isso tem de “Vergonha”?
Eu não saberia falar pelos
holandeses ou japoneses, mas posso falar pelo brasileiro em geral que é, além de trabalhador: mentiroso, egocêntrico,
“cego” politicamente e por, não raras, exceções, desonesto.
Somos o país do jeitinho. O país
onde os criminosos têm vez. Onde até mesmo o esporte é motivo para sermos pelo
lema nacional: Farinha pouca, meu pirão primeiro. Lema este que poderia
estampar muros de casas de cidadãos comuns, até mesmo a faixada do congresso ou
de certos tribunais.
Trazendo a coisa ainda mais
para perto de nós, o glorioso Fortaleza Esporte Clube, passou, salvo engano, 8
anos na série C do campeonato brasileiro. Era motivo de mangofa, ridicularizado
ano após anos. Isto tudo passado, com seu maior rival na série B...
Conseguem ver aqui o mote do
texto? Se não, vou esmiuçar ainda mais.
O ex-presidente Lula, preso em
abril de 2018, era presidente de 2003 a 2010. Após lotear estatais e se
consolidar com mais de 70% de aprovação, quando saiu do governo, foi acusado de
enriquecimento ilícito e afins.
Conseguem ver aqui o contexto
do texto? Vamos adiante, no miúde...
Jair Bolsonaro, com o meu e o
voto de quase 58 milhões de brasileiros, foi eleito presidente em 2018. De lá
até aqui, o máximo que fez, pelo menos é o que dizem, foi não roubar tanto
quanto seus antecessores.
Aí você se pergunta qual droga
estou usando para num texto só! Colocar Ayrton Senna do Brasil! Fortaleza
Esporte Clube, Lula e Bolsonaro...
Pois é, o Brasil, como todo e
qualquer país, é feito de altos e baixos morais. Vemos orgulho no tricampeão,
mangofa com a desgraça alheia e cegueira, ou até mesmo, escolha entre um ruim e
um menos ruim!
Nos faltam opções ou “é isso
mesmo”?
Ficamos animados quando nosso
time ganha com gol impedido e validado pelo VAR. Fazemos malabarismos para
explicar o motivo do nosso candidato, agora eleito, estar ladeado com o que há
de mais fisiológico na política. Tentamos explicar e culpar, qualquer um menos
o responsável, pelo preço de tudo estar caríssimo! Tentamos dizer que um único
ministro do governo Lula, devolveu mais de R$ 100 milhões e o atual
ex-presidiário está solto e é inocente!
Ficaria anos catalogando o “jeitinho
brasileiro”, mas não há motivos para tal.
Ayrton Senna era rico pelo
esforço dele. O Fortaleza chegou a ficar em 2º colocado no atual campeonato
brasileiro. O Lula não é e nunca foi inocente. E Bolsonaro...é olhar o preço do
supermercado.
Claro que vamos dizer que a
culpa é STF, ou do muro na curva Tamburello, mas jamais diremos ou faremos nossos
mea culpa por sermos cegos ou vermos que existe um limite entre nós e a
realidade que é intransponível.
Senna não teve culpa pelo muro
estar ali. Aparentemente, foi a barra da direção que quebrou e havia um muro e
a morte.
O Fortaleza soube esperar sua
hora; passou por presidente ruins, torcedores sofridos e treinadores “burros”.
Mas só quando alguém veio e acertou, este foi tratado como herói. Imediatismo.
Lula fez muito pelo povo. Fez tanto
que o povo esqueceu e viu que ele e seu amigos não eram tão bonzinhos assim. E ainda
dizem que: aquela justiça que condenou, era injusta. E a mesma que disse que o
juiz Moro era incompetente e suspeito para julgar o ex-presidente.
Bolsonaro vai por aí, não
rouba, mas também não faz. Não sei se ele é ruim, burro ou apenas incompetente.
Também não sei se não sei
votar ou se não temos opções. É bater no muro ou seguir tentando. É ser correto
ou ser esmagado pela falta de consciência coletiva que assola o país.
Não sei como é na Holanda ou
no Japão. Dizem que a maconha é liberada na Holanda; aqui é ilegal. Dizem que
políticos preferem a morte, a serem vistos como corruptos, no Japão.
Dizem que o Lula é inocente e
o Bolsonaro é genocida. Ninguém no Brasil conhece a própria história, menos
ainda a mundial.
Martin L. King foi preso
algumas vezes por lutar pela igualdade entre negros e brancos; e era inocente.
Ele, até aqui, não havia
aparecido no texto, pois o texto é uma mostra de que existem pessoas além do
nosso tempo, que morrem tentando superar suas próprias limitações existenciais,
no sentido de dar a coletividade um sentido de união e persistência por ideais.
Nós, humanos, somos a ralé da
natureza. Consumimos tudo e destruímos até mesmo aquilo que inventamos: a moral.
Fazemos coisas erradas conscientes, mas, por vezes, para o simples fato de nos
dar bem sobre os outros, impondo nossa perspectiva, congratulando-nos com o
errado.
Quantos Sennas surgiram? Quantos
Pelés tivemos? Quantos políticos foram santos e quando nós, eleitores, tivemos
razão?
Né?
Quantos jogadores foram
geniais, e quantos técnicos foram burros? Os anos passam e nós vamos numa
introspecção moral sem limites. Vamos até o mais baixo dos horrores, como
agora, na atual situação de “caridade” dos combustíveis e da comida cada vez
mais caros.
No entanto achamos normal. Vamos
esquecendo os que roubaram e os que não fazem e nem roubam. Não temos mais
limites para a vergonha. Este é o Brasil do centrão, que um dia foi a terra dos
índios.
O que mudou de lá para cá? Ladrões,
apenas; eis o que somos, uma vergonha.