quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Percurso.

Nessa estrada sem dono.
Nessa colina desterrada.
Nesse alvoroço uníssono,
Essa dor é quase nada!

Esse alívio é passageiro.
Essa dívida, forjada!
Essa estrada de nevoeiro,
Neva sonhos e mais nada!

Prego os olhos na curva.
Prego no pé do sapato.
A vista, focada e turva
Alinha-se mal ao retrato.

A linha desperta o sono
O sono mata o criado.
O criado foge do dono
O dono não manda nada.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A flor que a noite aguarda.

Todo dia, uma flor nascia e um amor morreu.
Mas nem via ou sentia um a outro.
Até que veio um vento forte,
Um som imenso,
Um momento,
Um toque...
Todo dia, um amor nascia e uma flor morreu.

Mas quem diria? Quem ousaria?
Ninguém respondeu.
Nada se ouviu. Nada se fez.
Nada, porém, podia ser:
O mundo hoje foi longe demais.
Naquela noite, naquele toque, algo acabou.

Mas que ninguém prometa, nem amargure.
Todo dia... Toda hora... Todo beijo
Todo rumo perdido... Um afim de sentidos.
Um amor escondido já me basta sentir.
Um toque. E tudo que penso:
Aquela noite, por todo dia...

Todo dia essa flor nascia e ninguém viu.
Houve o toque. Houve o cheiro.
Ouve a caricia e o afago discreto?
Há muito eu havia,
Mas quem mais ousaria?
Um velho bordão usaria:
Por que não eu?

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

...se o futuro é a morte?

Perdido na noite; perdido no dia;
Não importa a hora nem a dor.
Não importa a vida nem a cobiça,
Pois quem age em preguiça,
Nem que a demora seja ligeira,
A hora da morte é passageira
E a da dor é bem vista;
A boca da noite é revista
Que se lê aberta.
Que nos fala sem demora,
Que nos visita sem pressa;
Avalia o que nos resta,
Alivia o que nos mata.
Dá-nos fortuna e arrebata
Para tão longe quanto se vê...
Lá pelos fins dos dias,
Lá pela boca da noite,
No calar do açoite,
No soar do badalo,
Abre-te num longo estalo:
A cortina findoura.
É a hora das horas;
O matizar das viúvas;
O crepúsculo da aurora;
A hora da hora.
A cena passageira.
Que mesmo ligeira,
Que mesmo sem graça,
Desce em pranto e desgraça.
O que nos resta agora?
Cinza e rebeldia, contida e contada;
Morta e dizimada
Pelo condão da fortuna!
E por ver que algo nos resta...
Assim como no inicio,
É tudo conversa!
De onde não estamos por apego?!
De onde fincamos os corpos,
De onde morremos e mortos
Somos dizimados!
O último suor deixado,
A eternidade ser levado.
Agonizo pelos pecados
De uma vida pregressa,
Onde ser vivo é preguiça
E preguiça é meu nome!
Mas dizem ao velho homem:
Pra que pressa...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Encontro rio no mar.

Enquanto eu escondo meus sonhos, você se mostra em vida;
Enquanto eu vôo pelas nuvens, você caiu pelas calçadas;
Enquanto eu saboreio o sol, você amarga noites sombrias;
Enquanto eu vago pelo céu, você se destrói nesse deserto;
Enquanto eu rio na minha cama, você, inerte, chora no chão;
Enquanto eu passo pela dor, você vive nela se destrói;
Enquanto eu sou o que sou, você não aparenta o que é.

E quando eu fujo dos problemas, você encara-o livremente;
E quando eu choro pelos cantos, você encontra as soluções;
E quando eu caio e quebro a mão, você me levanta como sempre;
E quando eu olho o teu rosto, você não é mais a mesma pessoa;
E quando eu sinto tua face, você se afasta de mim;
E quando eu tento agarrá-la, você só me deixa um adeus;
E quando eu volto à realidade, você já me esqueceu.

E quando o rio colhe minha alma,
A tua lembrança me é pertinente,
Solto o grito na mais pura calma
Como se gritar fosse decente.

Como se algo eu pudesse romper
E essa força quebrasse a corrente!
E nesse ciclo e pudesse rever
O que mais ainda, eu passe a ser gente.

No escuro, na calma destituída,
Morre enquanto passo pela dor.
Uma tal que corrói a vida
E a vida perde o seu real valor.

Passaria, enquanto olho teu rosto,
Mais um dia, enquanto perco tua mão,
Inerte, sem provar do teu gosto,
Sem saber o que é machucar.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Hoje to meio assim...

Pele de cordeiro, orelhas de lobo.
Coração de guerreiro, na boca da noite.
Chama-me coração, de novo,
Não sabe que durmo?!
Nem imagina que sonho?!
Pele de besouro, orelhas de gavião,
Olhos que se dilatam, provocam este tolo.
Emoção que se esvai, olhos que vão;
Permito sem permissão.
Prevejo sins e nos nãos, mas está por lá.
Deixado sem dono, alvejado por tudo.
Cravado de inocências desumanas,
E de humanas inocências...
Pele voraz, insano algoz,
Coração diabo sem dono e sem lei
Faz o que diz, quer o que quer.
Dá-me um nome! Dá-me!
Nem que seja passageiro; ligeiro,
Meus sonhos estão acabando!
Preciso me decidir onde vou parar.
Meu pra sempre está perdido,
Lá, no mausoléu da fome.
Pele de cordeiro, orelhas de pedra,
Escutas meu nome, e o que vês?
Nada. Eu sei. Vezes e por vezes a sua procura.
A saber: já foi minha cura
Já foi o meu querer.
Nem sei do que falo, nem o que não digo,
Mas tem alguém aqui por dentro me pedindo.
Tem alguém implorando o silencio.
Mas mesmo que exista
O silencio nunca é real;
Meu coração dispara e diz que está por ai...
Não sei onde e nem se está bem.
Passo por peles de todas as peles,
Mas só a tua me chega.
Só a tua me implora pra ficar.
Não a quero, mas ela me quer!
Você me quer, mas ainda...
Ainda não vê o que eu vejo e nem sabe.
Pele de cordeiro?! Já fui e tive.
Hoje sou réptil trocando a pele.
Passando por dores e sacrifícios.
Minha alma nem mais tenho,
Perdi quando a desejei.
Mais um amor ou apenas um par de mãos?
Sobrepostas e intocáveis!
Pele de cordeiro, orelhas de trovão.
Besouro que veste rubro,
Amor que veste o veneno.
Já foi pequeno, hoje é gente.
Com rosto e fama suficiente,
Pra fazer o mundo parar.
Mesmo estando por todos os lados,
Ainda vejo uma fresta que o sol inclina.
Seu poente sorriso e seu beijo nunca sentido;
Sem nunca tocar sei que gosto.
Sem nunca olhar, sei o que vejo.
Sem nunca sentir... Isso não posso falar.
Sinto-lhe pelos dias que não tenho o seu sabor.
Pele de anjo, pelo céu se finda.
Diz que vai estar linda quando encontrar o céu,
Não o que Deus mora, mas o da minha boca.
Diz que vai estar com esse cheiro que sinto agora,
Não o da saudade, mas o da verdade:
Hoje to meio assim... É por mim?
É por tudo? É por nada?
Mais um coração, ou mais um pedido em vão?
Pele de nuvem que esconde meu sol,
Se for pra ser eclipse que seja o maior de todos!
Se for pra ser sincero que seja por um minuto,
Pois meu coração não agüenta
Mais um dia assim sem você.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ih, deinha...

Somos sementes no mesmo barro
Nascidas do mesmo chão.
Trocamos certeza pelo acaso
E muitas vezes, sim pelo não.

Colhemos frutas com ou sem casca
Na beira-rio de qualquer nascente.
Pra não lembrar as saudades
Que nos esperam pela frente.

Que nos entregam a sentimentos...

Vivemos como tristes covardes,
Fincados na terra do medo!
Com o mesmo nó da liberdade
Amarrado no corpo ”azedo”.

Ouvindo mais uma chegada;
Ouvindo mais um sermão:
“Quem dera sorrir nos sonhos
E deixar de lamentação “...

Quem dera ter o amor agora,
No raiar tardio da plenitude.
Mas meu pensamento vigora
Só com vontades e nada de atitudes.