segunda-feira, 22 de março de 2010

Um mundo distante.

Quem passa a mão sobre a tua,
Em pequena e delicada procissão,
Vive da duvida que perpetua
A espera do sim ou do não.

Que me espreita delicada figura
Nos sonhos do amor divino.
Embalado pelo som da candura
Do algoz fictício amor angino.

Que pela boca uma vez tocada
O corpo ainda treme de lembrança.
Faz de mim eterna morada
Eterna como esta tênue esperança.

De quem sabe voltar ao teu beijo!
Num sopro do tempo perdido.
Quero agora! Querer é meu desejo
Que guardo num lugar escondido.

Fracionado.

Na boca o gosto amargo da partida,
Ainda o resquício de outrora, foi.
Apenas surrupiou minha chegada
E nesta madrugada, de longe chegou.

Não era mais meu amor, minha vida,
Apenas era um ser de longa vinda,
Um colo que dormiu e morreu.
Um beijo que meu corpo esqueceu.
Um afago que a noite apagou...

Na boca de tantas outras bocas
Meu nome blasfema nosso amor.
Meu ser desaba com a morte,
Pois que da vida sem sorte
Paira-me sobre os dias a dor.

Vai de volta ao que onde nunca esteve;
Cala a sombra que desmente a glória!
Faz a noite! Faz meu grito!
Bem distante de mim! Bem distante.

Ali vai o calo da mente. Vai pra sempre,
Não volte nunca mais.
Faça da minha lembrança a sentença,
Onde fizer sua presença:
“o amor aqui jás”.

segunda-feira, 15 de março de 2010

1000 vezes

Posso não dar razão ao seu beijo.
Nem, às vezes, permitir seu sorriso,
Pois sou insensível ao o que preciso
E sensato ao o que não vejo.

Nem com toques me tocará.
Sua rima é pobre e delicada;
Já disse, não tenta me tocar,
Pois sou o único a sentir nada!

Não tenho frio e nem descanso.
Perdi minhas vontades e alegrias.
E nada delas lembro, perdi-as.

Hoje sou depósito; sou coliseu.
Sou mausoléu da retumbância!
Rio do choro de quem me perdeu
E afago o amor com ignorância.

Clareio o escuro com a morte.
Domo o tempo com paciência,
Pois sei quem me tem por sorte,
O mundo, e sua louca demência.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Meninos e lobos.

Enquanto esqueço de pensar,
De pensar o que fomos,
A vida recai sobre os olhos
E vejo o que somos.

Vejo o que fui ontem ainda
Não tão longe daqui. Amanhã.
Pode ser uma cova ou uma linda
Mulher num longo divã.

E mesmo que tudo termine,
Que tudo ao sabor do hortelã,
Saiba que aqui jamais estarei
Sendo seu último fã...

Vejo que tudo agora é tudo.
Que todo esse tempo parou.
Que toda essa busca é insana
E que em mim, nada mudou.

Ainda conto essas rimas;
Conto de tudo e de todos.
Volto a pensar, volto às esquinas.
Conto os meninos e lobos.

terça-feira, 9 de março de 2010

1055

Vago. Um rosto perdido na rua.
Pele rasgada. Sonolência e medo.
Uivo. Olho. No escuro flutua:
Uma linha. Um brilho. Mas é cedo.

A loucura me carrega nos braços
Dá-me o que de comer. Espero.
Espio e avanço. Quero mais esmero!
Olho. Intuo. Ali não posso ir descalço.

Lá tem vidro. Lá tem fome e briga.
Aqui posso cheirar a fantasia.
Ainda posso inventar a vida.
Mesmo que seja tão rápida alegria.

Mas agora já é tarde. Fica rua!
Calminha ai. Não se mova, eu volto...
E enquanto me espera, flutua
Ao som de saber que amanhã te solto.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Decameron

Raízes de finco bruto que a sede enverga.
Vozes festivas no altar dos mortos, cedo.
Ali, onde não anda mais ninguém, por medo,
Cede à causa liquida e findada que governa.

Antro cáustico das matinas mais permissivas.
Fronte prisioneira do fluente suor plebeu,
Toda e qualquer sonora, aqui ou lá, és meu!
Meu sonho partido, meu lugar sofrido: morreu.

Prata: a sombra que polue no lugar das distancias.
Bronze: suor de linho ao pelar da carne morta.
Pouco se sabe ou nem se quer importa.

Muitos se contentam com o triste passo adiante.
Quisera eu desejar tão óbvio destino , mas
Saber se nada vai por ser, o que nada se faz?