domingo, 31 de outubro de 2010

Jamais

Não é que eu quis diferente,
Não mais além ir dos fatos.
Dar um: “Bom dia minha gente,
Tirar botões e retratos!

Não é que eu queira presentes
Nem mesmo fundar o boato,
Mas é seguinte o em frente
Dolo faz do meu ato.

É que eu fui simplesmente
Deitar de cansado,
Quando voltei meu amor
Findou de maus tratos.

Sim, antes, porém exigente,
Cair pra sempre ao teu lado?
Pois ainda morto não sou
Morto de amor?! Um bocado.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Religião vs. Ciência e um toque de Cultura.

A religião é de longe um dos assuntos mais polêmicos dos nossos e de todos os tempos, pois meche com as paixões mais sagradas, tanto para quem crê no criador, quanto para quem crê na criatura. Eu, particularmente, vejo que não podemos falar desse tema de forma apaixonada, sem que corramos o risco de nos perder em nas próprias crenças e nos próprios costumes, já que imagino que crença e costume é a alvorada para a elucidação do nosso tema principal: o que somos e o que querem ser que sejamos?
Não é difícil perceber que a religião está intrinsecamente ligada à ciência quando queremos po-las em cheque.
E o que seria religião? A Wikipédia define religião como sendo “um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que parte da humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças”. Ufa, quanta coisa! Não deveria ser apenas a busca de Deus? Ou quem sabe, apenas a busca pelo que é bom e correto? Mas ai, no conceito de correção, entra o velho e bom costume... Então religião apenas seria algo que nos é passado de pai pra filho e que muitas vezes nos é forçado a ser e fazer parte do que somos... Nossa, vendo assim Deus seria uma simples compilação humana, um simples ato passado de geração em geração!
Não acredito que Deus esteja fora da gente, “vagando” entre vidas e corações, a espreita pelo próximo a necessitar Dele.
E a ciência, onde anda? Segundo a Wikipédia, Ciência é o esforço para descobrir e aumentar o conhecimento humano de como a realidade funciona. Acho que na ciência as crenças estão um pouco mais distantes do que não religião, vista que o homem busca o conhecimento, e em detrimento, a religião, o homem é apresentado a Deus como se Ele fosse o único caminho a seguir.
O grande problema da ciência é a falta de explicação para o inicio. A religião não tem essa preocupação de explicar nada, pois dela ou se aceita ou não.
Na religião, essa aceitação do Divino, por parte do individuo, se chama crença. Perguntas como “no que você crê?” ou “quem é teu Deus?” são mais do que suficientes para abarcar toda uma vida e toda uma existência.
A explicação não faz parte do arcabouço indutivo da religião, pois ela vislumbra Deus como uma entidade acima de tudo e de todos. E não tendo Deus algo que lhe compare em força ou tamanho, por que precisaríamos nos debruçar sobre de onde Ele veio ou de onde Ele é?
A aceitação de haver alguém maior que todas as perguntas e todas as respostas, colocam-nos numa posição, para quem crê nisso, de total supremacia sobre as questões existenciais. Se existimos, é da face de Deus nos oferecer o sopro da vida. Se morremos é do desejo de Deus nos tirar esse sopro. Deus é esférico, sem pontas ou detalhes a serem averiguados.
Já a ciência peca em tentar saborear um pouco da sabedoria de Deus, buscando-lhe comparar ou até mesmo passá-Lo. Não podemos dizer que a ciência não tenha logrado sucesso em criar ou desenvolver mecanismos que coloquem o homem um pouco a frente de seu corpo frágil e submisso aos efeitos do tempo. Tenta a ciência levar o homem até um lugar que ninguém sabe onde fica, nem imagina como o é, mas que com o passar do tempo parece mais perto do que nunca. E do que falo? Da simples e tão atingível por Deus: a eternidade.
O homem é eterno quando faz com que seu pensamento seja maior que sua vida, e transcendendo a sua forma, de forma a deixar para as gerações futuras suas teorias, feitos e ensinamentos. Por muitas vezes o homem já brincou de ser deus. Já passou a mão sobre o inatingível. Mas, infelizmente, não falo sobre boas ações; falo sobre o homem que produz o mal, o homem que causa o mal sem perceber que está sendo cruel e desumano.
Quantas vezes a ciência já criou a morte mesmo sem a intenção de machucar ou ferir? Terá a ciência um valor embutido em suas descobertas que a impeça de transpor os limites da moral ou da ética?
Ética vem do grego “ethos” que significa modo de ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem de “mores”, significando costumes. Mais uma vez encontramos tantas palavras próximas de um mesmo significado. Mais uma vez procuramos em lugares diversos a mesma coisa: o certo e o errado.
Terá Deus deixado para nós as “tábuas” limítrofes da vida? Ou Ele simplesmente nos obstaculizou com o seu sopro ameaçador, dando-nos um aviso: “Sou eu que dou e somente eu que tiro.”
Certa vez Nietzsche disse: "Ensino que a vida jamais deveria ser modificada ou esmagada devido à promessa de outro tipo de vida futura. O imortal é esta vida, este momento." Contemporizaremos, ou que tempo moral ou ético que temos é o tempo do agora? O que hoje na religião é moral, um dia foi imoral; o que temos de ético na ciência de hoje, ontem era absurdamente antiético. Vivemos nessa gangorra entre o tempo em que algo serve a sociedade e o que não serve mais. Tanto a religião quanto a ciência passam pelo tempo como se fossem uma criança, vivenciando cada passagem como uma grande aprendizagem.
Quando Nietzsche diz que o imortal é essa vida, este momento, ele nos fala que temos que vivenciar o nosso presente, que os que hoje prometem e querem a nossa submissão, amanhã nos tratarão com desprezo ou até mesmo nos abandonarão.
Existem grandes leis e grandes dogmas; existem grandes homens e uma única divindade. Esperar que sejam por nós o que nem nós somos por nós mesmo, é esperar por um dia que já passou. A ciência demonstra o que a religião nos faz sentir. A ciência dá o que nós tiramos dela; a religião é a sabedoria da alma, enquanto a ciência é a tentativa do mais saber.
Veja este pequeno trecho bíblico: "Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, chegou-se a ele um centurião e rogou-lhe: Senhor, o meu criado jaz em casa, paralítico e padecendo horrivelmente. Disse-lhe Jesus: eu irei curá-lo. Mas o centurião respondeu: Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa; mas dize somente uma palavra e o meu criado há de sarar. Porque também eu sou homem sujeito à autoridade e tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: vai ali, e ele vai; a outro: vem cá, e ele vem; e ao meu servo: faze isto, e ele o faz. Jesus ouvindo isto se admirou e disse aos que o acompanhavam: Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé. E digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente, e hão de sentar-se com Abraão, Isaac e Jacó no Reino dos Céus; mas os filhos deste reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes. Então disse Jesus ao centurião: Vai-te, e como creste assim te seja feito. E naquela mesma hora sarou o criado."
Quem sou eu para discursar sobre tal texto, mas sou alguém suficientemente esclarecido para vislumbrar o teor magnífico de tal passagem. Vemos a humildade e o valor de vida de quem não precisava ser humilde. Ter valor moral é ter valor sobre a vida; é saber quando e como ser mais ou menos intenso nas relações humanas. Aqui Cristo nos fala o quanto o homem precisa acreditar em algo maior que ele próprio, o quanto o homem precisa se descobrir interiormente. Muitas vezes queremos ir além do que somos, e deixamos de ver o que não somos. O carpinteiro faz da matéria bruta um adorno para os olhos e para o corpo. Cria de onde não havia forma elogiável, um irretocável presente natural.
Vejamos outra pequena passagem, agora do maior cientista de todos os tempos, Albert Einstein, sobre suas convicções religiosas:
“A mais bela e profunda emoção que se pode experimentar é a sensação do místico. Este é o semeador da verdadeira ciência. Aquele a quem seja estranha tal sensação, aquele que não mais possa devanear e ser empolgado pelo encantamento, não passa, em verdade, de um morto.
Saber que realmente existe aquilo que é impenetrável a nós, e que se manifesta como a mais alta das sabedorias e a mais radiosa das belezas, que as nossas faculdades embotadas só podem entender em suas formas mais primitivas, esse conhecimento, esse sentimento está no centro mesmo da verdadeira religiosidade. A experiência cósmica religiosa é a mais forte e a mais nobre fonte de pesquisa científica.
Minha religião consiste em humilde admiração do espírito superior e ilimitado que se revela nos menores detalhes que podemos perceber em nossos espíritos frágeis e incertos. “Essa convicção, profundamente emocional na presença de um poder racionalmente superior, que se revela no incompreensível universo, é a idéia que faço de Deus.”
O homem se utiliza da natureza para fazer seu castelo de ilusões. E a forma com a qual ele molda tal castelo, vai depender da cultura em que ele está inserido. Deus é universal e humano; Ele vem de mim e vai a quem quer senti-Lo.
Deus é moral, universal e humilde. A ciência pode ser ética, restrita e soberba. Mas da nossa parte, da parte humana, somente a nós cabe dar um rumo aos acontecimentos da ciência e aos por menores da religião. Nossa cultura nos molda e nos apara as arestas quando tentamos ser ou fazer o imponderável. Ser isso ou fazer aquilo depende dos valores aprendidos das formas mais diversas. Tememos e ao mesmo tempo infringimos as leis humanas e divinas, sempre tentando esticar mais um pouco a corda da possibilidade. O homem é falho e com ele suas falhas são tidas como realizações de um ser que tenta. Tenta ser mais ou menos deus; tenta falhar sem olhar o horizonte, ou tenta acertar olhando o que o cerca.
Todo predicado é criação do homem. Tudo que vemos é criação do acaso ou de algo que não entendemos. O homem é o santuário divino das ciências e de Deus. Dele sai o que pode ser mudado e o que faz o mundo mudar, mas ele não é capaz de dar nem de criar a vida. Somente a Deus pertence o sopro; o homem é o sujeito de Deus, onde Ele é o verbo.
Da minha parte, não existe humanidade sem Deus, e não há sentido existir Deus sem homem. Não há sentido haver ciência, se a ética e moral não andarem lado a lado, uma tocando a outra. O valor humano é difuso, mas a vontade divina é onipresente.