sexta-feira, 22 de dezembro de 2023
Cadeado
sexta-feira, 24 de novembro de 2023
A quem der mais!
Não sou cobra, mas cobro.
Não sou rico, mas há risco:
No chão e no ar.
Do que sou feito?
Defeito.
Do que tenho medo?
Segredo.
Em que acredito?
Omito.
E quem sabe?
Ninguém.
Se tem, invade.
Se vem, metade!
Não sou completo!
Porém, repleto
De medos e aparências
Entre outras tantas evidências...
Para findar o papo:
Cansei, de fato,
De ficar escrevendo
E vc prevendo
O que vou rimar.
Não há! Admita,
Pepita nesses dizeres.
Só há lama
Que se derrama sobre mim.
E assim, o fim,
Como velho começo,
Vou de frente pro avesso
Ao risco e aos fatos.
Pois, entre tantos retratos,
De mim, não será assim
O novo velho e presente começo
Agradeço a impaciência
Porém, a inconsistência
Que me é peculiar...
É de família? Talvez.
Nós três: eu, tu e ela
Foi uma prequela do que virá.
Fim, por enquanto.
domingo, 13 de agosto de 2023
Em respeito a minha própria hipocrisia
Não costumo medir-me pela
régua dos outros, mas um dia como o de hoje, o tal dia dos pais, é um exemplo
que carrego da hipocrisia que vivemos.
Falamos muito de respeito
pelas pessoas, de amor ao próximo e tantos outros bla-bla-blas que tentam e
conseguem nos enfiar goela abaixo. Passaria aqui horas citando, mas prefiro
pular esta parte.
Num desses dia dos pais, cheguei
pro papai, já sabendo que ele odiava esse tipo de demonstração e falei: “meu
pai, deixe-me lhe dar um abraço e felicitações pelo dia de hoje”. Ele ficou
olhando e automaticamente se encolhendo na cadeira a medida que eu me
aproximava, ele ficou tão pequeno na cadeira que quase era ele a me felicitar!
Brincadeiras a parte, ele disse assim: “não sei porque você está me felicitando,
eu errei tanto...” Eu não contive a risada e ele também não.
Na segunda-feira, como de
costume, o grande irmão e meu segundo pai, Bentino, chegou meio dia pra tomar
aquele café. Sempre parávamos ali na cozinha para papear e aproveitei e disse
ao Bentino do ocorrido de ontem, assim: “ Pois é Bentino, ontem, dia dos pais,
fui dar um abraço ai no papai e ele disse que tinha errado muito comigo”.
Bentino, engraçado e tirador, disparou sem pena em minha direção: “Negrones, eu
seguro e tu abaica!”
Eles queriam me bater! Kkkkkkkkkkk
A risada foi geral.
Fui aquilo para quem foi, não
há hoje homenagem que desfaça o que fiz ou o que deixei de fazer; o que está
feito, está feito! Não foi perfeito e jamais será ou seria. Por isso temos que
pensar nas pessoas e em nossas atitudes para com elas, independente de quem são
ou que dia é.
Basear um amor e uma dedicação
a um único dia, é, no mínimo, uma baita hipocrisia. Hoje não é, pra mim, nem de
perto um dia a ser lembrado. Tanto faz acharem que é dia dos pais, das mães ou
dos filhos, importo-me com aquilo que estou fazendo e principalmente com aquilo
que deveria fazer e não estou.
Nessas horas, gosto de citar parte
daquela música, quando eu me chamar saudade: “se alguém quiser fazer por mim,
que faça agora...depois, quando eu me chamar saudade, não preciso de vaidade,
quero preces e nada mais...”
E é assim que gosto de lembrar
daqueles que partiram: alegremente e diariamente. Não preciso postar nada nas
redes sociais, pois tenho consciência que apenas o meu ego estará vendo.
A lembrança é um coração
pulsante e não um coração partido, pois se partido está, dói; e se dói, algo
foi feito errado, mas o passado, ninguém pode mudar. No mais, cada um responde
pelo que fez e pelo que deixou de fazer. Assim como cada um responde pela dor
que carrega. E sobre o dia de hoje, a mim não diz nada.
segunda-feira, 5 de junho de 2023
Nossa realidade
Dali mesmo, da calçada, vejo
um moleque sentado ou uma senhora, na calçada vizinha, como diria Raul: com a cuia de esmola na
mão. Quantas vezes já falei sobre isso? Quando saio dali, da calçada, e pouco
faço isso, venho para o trabalho, paro no "sinal" e chega um moleque
pedindo pra eu comprar pastilha.
Eu nunca ando com células ou
moedas. Meu dinheiro é aqueles números que o saldo do banco me diz possuir.
Nego a compra e ele me pede uma moeda, digo que não tenho.
Mais que uma reflexão sobre a
situação dessas pessoas, reflito sobre o que eu poderia fazer? Vejo políticas
públicas voltadas para essa situação? Você vê?! Conte-me! No "sinal"
são 3 pobres pretos, talvez irmãos que certamente nunca leram um livro, mal vão
à escola e se vão, a merenda é péssima e provavelmente a sala é quente e são
tratados como, na voz do capitão Nascimento: moleques.
Desconheço qualquer investimento
social maior do que em educação. Nessa pandemia, demos, pois o governo dá o
dinheiro que é nosso, bilhões e bilhões em auxílio emergencial; PEC's foram
feitas, teto de gastos esquecido, filas que davam voltas em lotéricas e bancos...,
mas você acha que algum livro foi comprado?
Eu soube de tabletes comprados
pra crianças, mas só pra nós aqui, quem hoje consegue passar mais que 20
minutos lendo sem olhar um instante no celular? Aí você dá um tablete e espera
que a criança estude? Os governantes não entendem as necessidades do povo;
acham que é como dar comida a galinhas: só jogar o milho no chão e pronto!
Mas meu ponto aqui é simples: o
real investimento em educação não é educar, mas sim tentar explicar onde se
chega a partir da educação.
Estudar nos liberta. Se você acha
que há uma escravidão eterna entre brancos e pretos, então qual é a vantagem?
Por quê, até onde eu saiba, R$600 de auxílio não transforma ninguém. Sequer
alimenta! Mas a educação, desde a base, sendo esta a mais importante e a mais
negligenciada, é sim e sempre será o principal fator de libertação humana.
Assim como uma arma de destruição
em massa, a educação é uma arma de construção da massa, mas não essa educação
que só vê a valorização financeira dos profissionais. O dinheiro não faz uma
causa; Professores tem que ganhar bem? Sim, assim como o faxineiro, o gari, o
médico, o policial etc.
Todo profissional tem que ganhar
bem! Mas a quem é relegado o salário-mínimo? Adivinhem? O trabalhador que
provavelmente não estudou.
Nossa pirâmide social é gigante e
ignorante. É daquelas que chega num estabelecimento de saúde público, é
maltratada por profissionais despreparados ou mal pagos, com excesso de horas
trabalhadas, médicos que dão plantões e mais plantões de 24hs, trazendo para si
o cansaço de "atender esse povo" e acha, o povo, que a festa na
praça, milionária, nada tem a ver com aquela situação.
Não estou falando especificamente
da nossa cidade, mas sim, de todo país.
Não preciso sair da calçada para
me informar que, mesmo em situação de emergência de saúde pública decretada
pela pandemia, muitas prefeituras tentaram e fizeram festas e mais festas
milionárias. O pão e circo nunca foi tão banalizado! Sequer disfarçam mais. Os
políticos contam com sua ignorância para continuarem a criar problemas e
soluções que nada resolvem.
Eu, sinceramente, estou cansado
de ver a mesma coisa sempre. Todos querem mais e mais, mas ninguém está
disposto a refletir sobre os reais problemas. Nem mesmo o povo quer, pois nem
sabe que pode.
Vivemos a época do espelho e do smartphone.
O culto narcisista ou a ode digital da aparência perfeita. Estamos muito
apressados e ocupados com 300g de frango, 100g de arroz, 45cm de braço e whey!
Nem os cílios são mais nossos. As unhas, postiças; a vida, “perfeita”. Ninguém
caga e nem fede. Mas as crianças pobres continuam nas ruas. As ruas continuam
esburacadas. A biblioteca pública tem livros desatualizados. As escolas, com
professores valorizados ou não, continuam produzindo uma massa amorfa,
disforme, mas altamente viciada em dopamina. É a dancinha do TikTok, o
influencer, o clickbait, a curtida e tantas outras coisas efêmeras.
E interessante, que dizem que o
atual presidente universalizou o ensino superior...não, ele facilitou o acesso a
algo que deveria ser superior, difícil, custoso, trabalhoso, porém transformou
a “universidade para todos” em uma universidade para qualquer um. Acabou com a
reprovação no ensino fundamental. Institui piso para diversas carreiras, mas
esqueceu, agora incluo todos os governantes, que a massa continua com seu piso
salarial mínimo.
Mas tudo é de comum acordo com o
povo; este, merece o governante que tem. O povo está cada vez mais sabido e
cada vez menos inteligente. A vida virou aparência, enquanto a natureza do
homem continua a mesma: longe do criador, querendo, a criatura, ser maior que Deus!
segunda-feira, 24 de abril de 2023
Fatoração
No mundo de hoje, é quase
impossível não saber o significado de uma palavra ou expressão. Fatorar, na
matemática, é uma série de divisões de um número; claro que posto de uma forma
bem simplória! Até porque, matemática é de longe meu fraco!
Mas, mesmo assim, os
problemas, tanto matemáticos quanto aqueles que a vida nos proporciona...ah, um
belo parêntese aqui: a vida não se importa com as nossas circunstâncias! Frase mais
que dita, sentida...voltando em 3,2,1... a vida nos dá oportunidade ou de
continuarmos errando a fatoração dos problemas ou chegar a um denominado comum.
Costumo ver os problemas
assim: identifico, racionalizo e fatoro. Dividir os problemas é a forma mais
eficiente de atacá-los. Os problemas têm essa fraqueza existencial, pois são incapazes
de resistir a uma mente equilibrada e sabedora daquilo que quer. Até porque,
nada resiste a uma mente constante e equilibrada. Evidentemente, depende do tipo
de constância a qual estamos nos referindo e ainda mais ao tipo de equilíbrio
ao qual estamos expostos.
Ao fatorarmos os problemas,
olhamos para o âmago de seu ser e nos apoderamos daquilo que nos antes era fraqueza.
Aprendi, as duras penas, que só existe um alguém importante na nossa vida, e
este somos apenas nós mesmos. Algo que sempre falo: se não existirmos,
fisicamente, o que mais existe?
Há em nossa mente, na parte
anterior do lóbulo frontal, uma região que nos faz refletir sobre o que estamos
a pensar, sentir e afins. É como e quando olhamos para o que estamos pensando. É
tipo aquela conversa consigo mesmo, tipo: por que estou pensando tanto nisso ou
porque pensei nisso? Serei um monstro?
Não! Por sermos conscientes da
nossa consciência, refratários de nosso destino, aqui, no sentido de sermos
rebeldes, continuamos numa busca cada vez mais profunda, rumo a um desconhecido
chamado nós. Não seria por isso, então, que a humanidade anda tão doente? Talvez
tenhamos nos esquecidos que devemos servir ao senhor nós mesmos.
É isto, simples assim? Seremos
nós apenas por nós mesmo? Jamais! É o que sempre diz o excelente Wesley
Barbosa: somos mamíferos e como mamíferos, vivemos em bando. Ninguém é uma ilha
e aqui, como todo tolo, morre a certeza. Não existe certezas ou coisas certas. Nos
números também não existe algo absoluto, pois tudo é relativo a algo.
Divaguei, eu sei, mas divagar
é preciso, é preciso e devagar. Nesse jogo de palavras, as frases se amontoam e
entoam aquilo que mal consigo prever...começamos pelos problemas e terminamos
pelas soluções. Tudo aquilo que nos é custoso, abandonar ou abraçar, é
necessário para o nosso crescimento.
A reflexão faz parte da nossa
vida. E, ao refletirmos diante da nossa miséria, ao sentarmos lado a lado com
nossos problemas, olhando para eles de fora e um pouco mais de distância,
veremos que eles não são tão grandes, feios e doídos como nos parecem.
Algo que carrego comigo desde
hoje: um covarde diria “o que os olhos não vêm, o coração não sente”. Eis que
me recuso a sentar lado a lado com um covarde! Problemas velhos não trazem
novas soluções, pois a mais simples esperança de melhorarmos como seres
humanos, vem da atitude de não aceitar as migalhas que caem da mesa, pois se há
migalhas, há alguém comendo o pão.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023
Carnaval... “Lembro a saudade que hoje invade os dias meus; para o meu mal, lembro, afinal, um triste adeus”
Não sou um qualquer, menos
ainda qualquer um; ninguém deveria ser, pois deveríamos todos sermos
especialmente especiais, únicos em imperfeição. Mas dentre meus defeitos, a
saudade, como uma roupa em farrapos, de tanto usá-la, se nega a partir. E eis
que espero dela, jamais me despedir...pelo menos não tão cedo.
Estaríamos aqui, nesta época
carnavalesca, rumando ao Triunfo, ali depois da Ibaretama, para a vivenda Sheila
Maria. Um lugar onde várias outras tantas famílias se reuniram por décadas, em
várias datas festivas, comemorativas e afins.
Mas nós, de posse do empréstimo
da casa, íamos no carnaval. Eu não conheço esta data como a maioria das pessoas
conhece. Como não bebo, não gosto de aglomerações, não cheiro e não fumo, sou
tipo careta, mesmo sendo um baita sonso. Como diria Nelson: Só as paredes confesso...
E nessa infanto-adolescência,
nesse tempo hoje tão saudoso, íamos passar o carnaval por lá, no Triunfo. Desde
já, certa vez, fomos numa rural, salvo engano emprestada pelo chico Martins;
era coisa demais nessa rural: desde gente, a comida e uns ótimos pães feitos
pela “irmã suelo”.
Como muitas vezes fomos para lá,
farei um mix de lembranças!
A viagem da rural era muito
clássica. Desde a saída, aquele cheiro de fumaça, diesel e só deus sabe mais o
que, ainda hoje entranha as lembranças. Chegado lá, íamos, digamos, fuçar os
quartos, pois me diga se não é isso que os ratos fazem quando os gatos saem?
Melhor dizendo, íamos direito olhar piscina!
Não éramos pobres, mas, porém,
humildes demais para ter uma piscina em casa. A piscina pequena, mas era a
glória em forma de buraco e água. Simples, não?
Papai já se ajeitava com seu
som cassete e as eternas marchinhas carnavalescas. Era fita atrás de fita; era
o que se tinha de mais perto de uma folia! Deus sabe o quanto era bom aquele
tempo...
Mas a piscina não estava
cheia. Tínhamos que esperar pelo menos um dia pra que ela enchesse. Na primeira
noite sempre existia essa expectativa da piscina encher. Passávamos a noite
acordado, tentando fazer o outro ter medo do quadro do Mickey. Juro, ele era
fantasmagórico! Reza a lenda que o Mickey se mexia no quadro. Era um terrorismo
total.
Mal raiava o dia e já
estávamos lá de pé, frente a piscina. Não importava se tinha enchido ou não, o
que importava era que tinha água no buraco e dava, quase, pra fazer aquele “timbum”.
Porém, estamos esquecendo a merenda. Recordo demais o nosso saudoso Joel,
olhando pra mim querendo perguntar quanto de café tinha que colocar na xícara.
Certamente, tanto ele quanto o “dodim” jamais havia tomado Nescafé. Eu, sem
muita malícia, disse que podia botar o quanto quisesse...eis que botaram café
demais! Porque você colocar 3 ou 4 colheres de café numa xícara...Nunca esqueci
isso!
Passada a fase da acomodação e
estadia, a piscina era o foco. Enxia, não enxia. E papai já estava trabalhando
naquele litro de cana. Pra ele, que jamais havia comido chocolate e não sabia o
que era beber Coca-Cola, cachaça era o extase! Litro e meio desciam fácil...
Mas o que mais me
impressionava nele, era a capacidade de beber sozinho, escutando um mix de
carnaval-marchinha e “a volta do boêmio”. Não havia nada que o atrapalhasse. Perna
cruzada, cigarro na mão, óculos escuros, fita ia fita vinha e ele não dava uma
palavra.
O que tento hoje a todo custo,
fazendo meditação ou respiração controlada, papai fazia com cana, um sonzinho e
o eterno cigarro. Ele entrava num flow inatingível. Vez ou outra alguém gritava
lhe perguntando algo e ele, acho eu, nem escutava, assentia com a cabeça. Ninguém
sabia se era sim ou não, mas estava respondido.
O meio-dia chegava e com este
chegava o almoço. Nós, meninos, mulheres e crianças, não tínhamos a prioridade
de comer primeiro, era o atual dono da casa; um flagrante caso de respeito aos
mais velhos!
Até aí, aparentemente, nada
demais, mas era uma cena foda! Papai comendo aquela panelada quente, com cuscuz
e arroz, levantava-se e sem nada dizer, mergulhava na piscina. Ficávamos absortos,
incrivelmente maravilhados com a destreza e a coragem, pois quem tem essa
coragem de mergulhar numa piscina após comer uma comida quente e pesada quanto
aquela?
Diga-se de passagem, até hoje
a mamãe diz pra não abrir a geladeira, porque ela comeu caldo quente...minha mãe,
o que é um caldo quente e uma geladeira, frente a um mergulho triplamente qualificado,
após uma panelada! Claro que se ele estivesse aqui, diria a ele que sobreviveu
ao mergulho, mas...
Saía ele doutro lado da
piscina, com aquele calça azul-marinho e pasmem! De óculos. O homem era um
super-herói! Voltava, sentava, uma terça de cana e mais marchinha.
Aqui uma coisa interessante:
com o passar e o avançar do dia, a marchinha dava lugar a “boemia”. Aparentemente
papai já roía muito antes de conhecermos Bruno e Marrone ou a lendária Marília Mendonça.
Aqui cabe dizer que será o nome da sua neta, meu pai, Marília.
Voltamos...
Nelson Gonçalves, Amado
Batista, Ataulfo Alves, Reginaldo Rossi e tantos e tantos outros, faziam a
festa!
Como disse logo no começo “lembro
a saudade que hoje invade os dias meus...” Que me desculpem todos os viventes,
mas até hoje, só consigo lembrar e chorar, ao mesmo tempo, deste homem chamado meu
pai.
Todo tem seus amores e suas histórias,
dedicando publicações e fotos, mas eu tenho uma vivência e admiração por este meu
pai. Não por ter sido alguém, mas por ter sido tudo que eu jamais serei.
Posso fazer mais e melhor, mas nunca igual.
Os carnavais irão passar e com
ele novas histórias, boas ou ruins, mas nada se comparará a estar naquele Triunfo,
com aquele ambiente, com aqueles que já partiram. Só tenho a homenagear e pedir
a deus que tudo transcorra da melhor forma possível.
Que todos tenham um bom
carnaval, mesmo eu não gostando da data...como disse antes, nada se compara com
aqueles velhos e bons tempos...
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023
É Morro abaixo
segunda-feira, 30 de janeiro de 2023
nada mais que a verdade
Como meu avô paterno, Carlos Nogueira de Milão, morreu quando eu tinha pouco mais de 6 meses, coube ao cabo Edi ser a imagem de um avô. E assim vamos nós...
Lembrar de coisas boas,
saudosismo, é como sentar a beira da estrada da vida e olhar em perspectiva.
Claro que muitas histórias eu ouvi; coisas que iam e vinham na minha
imaginação; coisas tipo fazer mel de rapadura pra sustentar uma família com 10
filhos, ou passar longos anos com apenas 3 cartuchos de 7.62mm quando era
“delegado” na várzea da onça... mas gosto, não só de sentar à beira da estrada,
mas ir e vir com os carros que passam e sentir o que eles dizem.
Certa vez, meu avô materno,
cabo Edi, precisava ir na maternidade aqui de Quixadá. Aparentemente, não havia
quem fosse com ele e eu me dispus a ir. Ele de poucas palavras, mas de passos
rápidos, saímos rumo a maternidade. Não perguntei o que ele ia fazer lá, mas
certamente não me importaria, pois uma viagem dessas era ir e voltar sem ter
tempo pra pensar.
Num determinado ponto da ida,
notei que tanto eu quanto ele nos alternávamos do lado direito da calçada; era
como uma corrida de carros, onde estar do lado de dentro da curva faria toda a
diferença. Vi que ele não fazia qualquer esforço pra andar mais rápido que,
tanto que eu disse a ele: “meu vô, leve a mal não, mas vamos mais devagar”.
Acho que ele pensou que eu
havia dito isso por causa da idade dele, que certamente já beirava os 70 anos
ou mais; porém, como sempre fazia, ele se fazia de doido pra melhor passar e
continuamos rápido.
Eu era novo, não tinha 30
anos, mas estava penando para acompanhar o ritmo! Ele sempre fazia uma
caminhada toda manhã, cedo, madrugada e eu, sei lá o que fazia, mas com toda
certeza eu teria muito, e tenho, que me esforçar pra acompanha-lo, tanto na
idade como na vida.
Mas continuava a troca de
lados na calçada, mas sempre era a disputa pra quem ficava do lado direito.
Numa certa altura da viagem, disse a ele: “meu vô, me diga uma coisa, porque é
que você só anda desse lado da calçada?” A princípio, acho que ele, mais uma
vez, se fez de doido e só andou...e agora, ainda mais rápido.
Caba do sertão, ligeiro, não
tem tempo pra enxugar o suor nem dar conversa a gente besta; nesse caso, com
toda certeza, besta era eu. Ele lidou com gente ruim; contava que certa vez,
prendeu um meliante na várzea da onça e trouxe o caba amarrado pelas mãos, até
a cidade. Trouxe, literalmente, quase arrastado. Ele veio de cavalo e o bandido
de pé. Imagine isso nos tempos de hoje...
A viagem continuou e continuou
e chegamos novamente em casa. Dom lucas, 251, campo velho. Eu estava suado
demais para perguntar mais alguma coisa. Estava cansado demais! Mas nunca
deixei de me perguntar, pois ele nunca me respondeu: por que o senhor só anda
do lado direito da calçada?
Noutra feita, saia eu de casa
dizendo a minha mãe: vou lá no vô. Esse dia foi épico! Eu vi o que não vi!
Atenção, só sou responsável pelo que digo, mas não pelo que você entende ou
acredita.
Seria apenas mais uma das
centenas de visitas que eu fazia... quando cheguei na esquina, da famosa
zeneide, lá estava ele na janela. Até aí tudo normal, pois eu fiz esse trajeto
centenas de vezes.
Já pisando na calçada, fui
longo pedindo a bença; ouvi o “deus abençoe” e não vi mais nada. Quando cruzei
a porta, ele, que estava na janela, não estava mais lá! Parecia que eu havia
cruzado um portal! Eu olhei, andei mais uns passos e ouvi uma voz atrás de mim,
na janela, dizendo: não me viu né?
Fiquei, como ainda até hoje
estou, sem entender. Eu cheguei e ele estava na janela, quando passei pela
porta ele não estava mais lá! Eu conto e ninguém acredita: meu vô ficava
invisível! E ele ficou.
Por vezes me pergunto se eu
mentiria sobre alguém que já faleceu. Acredito que não. Mas de qualquer forma,
foi o que não vi, literalmente, o que aconteceu. E ele ainda se regozijou,
dizendo: não me viu, né?
Não mesmo.
Mas ele explicou que era uma
oração que ele fazia, mas que demandava muita energia ou coisa do tipo e que
não era algo que sempre fazia. Aparentemente, era algum tipo de poder místico
ou sei lá o quê; de qualquer forma, sei o que não vi.
Poderia dizer mil outras
coisas; poderia falar da vez que passou um homem vendendo rede e ele fez o
homem mostrar umas 10 redes e no final disse que não dormia de rede porque
tinha diabetes. Eu olhei assim e fiquei sem entender. Mais ainda ficou sem
entender o vendedor de rede. Que tinha a ver diabetes com dormir de rede?
Falando em rede, ele me disse
e carrego comigo até hoje essas palavras: meu neto, se você ficar dentro duma
rede, o máximo que pode acontecer é o punho quebrar e você cair no chão...
muita verdade nessa frase.
Leitor da bíblia, pai, humano,
fraco e forte, tudo isso foi meu avô. Costumo pensar que não existe honra nesse
mundo que vivemos, mas existe história e essa ninguém pode nos tirar. Aprendi
muito naquela janela, desde o que fazer ao que não fazer, onde via idas e
vindas, boas ou ruins, de frente ao cabaré ou de costas para a casa, dizia-nos
ele o que a vida não é, pois o que ela é, todos nós sabemos.
A vida é, nas palavras dele,
tudo aquilo que fazemos pelo lado direito da calçada: é o lugar mais seguro
para se andar; e tudo isso sem muitos motivos, apenas é o que é.