sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Cadeado

Há uma ponte, bem distante, 
Cheia de cadeados nela. 
As pessoas lá com belas
Vãs Palavras como antes.

Lembram, choram e divagam. 
Ouvem gemidos longos e gritos
Fazem promessas e ritos
Querem ser felizes e se calam.

Nessa náusea por estar suspenso
Numa realidade sem igual
Achamos ser aquilo, como tal

E talvez não seja nada demais. 
Mesmo isto não sendo, 
e quem chora eu entendo
Implora, se perde, mas se ergue

A tempo, a todo tempo, 
jamais desiste. Insiste! 
Persegue a felicidade
Nessa ou em outra ponte
Que é a fonte para a calamidade. 

Não é o cadeado que te prende
Nem a fuga que nos cala,
Pois acredite, quem mais entende,
De sofrer, é quem vos fala.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

A quem der mais!

Vendo meu veneno.
Não sou cobra, mas cobro.
Não sou rico, mas há risco:
No chão e no ar.

Do que sou feito?
Defeito.
Do que tenho medo?
Segredo.

Em que acredito?
Omito.
E quem sabe?
Ninguém.

Se tem, invade.
Se vem, metade!
Não sou completo!
Porém, repleto 
De medos e aparências
Entre outras tantas evidências...

Para findar o papo:
Cansei, de fato,
De ficar escrevendo
E vc prevendo
O que vou rimar.

Não há! Admita,
Pepita nesses dizeres.
Só há lama
Que se derrama sobre mim.

E assim, o fim,
Como velho começo,
Vou de frente pro avesso
Ao risco e aos fatos.
Pois, entre tantos retratos,
De mim, não será assim
O novo velho e presente começo


Agradeço a impaciência
Porém, a inconsistência
Que me é peculiar...
É de família? Talvez.
Nós três: eu, tu e ela
Foi uma prequela do que virá.

Fim, por enquanto.

domingo, 13 de agosto de 2023

Em respeito a minha própria hipocrisia

 



 

 

Não costumo medir-me pela régua dos outros, mas um dia como o de hoje, o tal dia dos pais, é um exemplo que carrego da hipocrisia que vivemos.

Falamos muito de respeito pelas pessoas, de amor ao próximo e tantos outros bla-bla-blas que tentam e conseguem nos enfiar goela abaixo. Passaria aqui horas citando, mas prefiro pular esta parte.

Num desses dia dos pais, cheguei pro papai, já sabendo que ele odiava esse tipo de demonstração e falei: “meu pai, deixe-me lhe dar um abraço e felicitações pelo dia de hoje”. Ele ficou olhando e automaticamente se encolhendo na cadeira a medida que eu me aproximava, ele ficou tão pequeno na cadeira que quase era ele a me felicitar! Brincadeiras a parte, ele disse assim: “não sei porque você está me felicitando, eu errei tanto...” Eu não contive a risada e ele também não.

Na segunda-feira, como de costume, o grande irmão e meu segundo pai, Bentino, chegou meio dia pra tomar aquele café. Sempre parávamos ali na cozinha para papear e aproveitei e disse ao Bentino do ocorrido de ontem, assim: “ Pois é Bentino, ontem, dia dos pais, fui dar um abraço ai no papai e ele disse que tinha errado muito comigo”. Bentino, engraçado e tirador, disparou sem pena em minha direção: “Negrones, eu seguro e tu abaica!”

Eles queriam me bater! Kkkkkkkkkkk

A risada foi geral.

Fui aquilo para quem foi, não há hoje homenagem que desfaça o que fiz ou o que deixei de fazer; o que está feito, está feito! Não foi perfeito e jamais será ou seria. Por isso temos que pensar nas pessoas e em nossas atitudes para com elas, independente de quem são ou que dia é.

Basear um amor e uma dedicação a um único dia, é, no mínimo, uma baita hipocrisia. Hoje não é, pra mim, nem de perto um dia a ser lembrado. Tanto faz acharem que é dia dos pais, das mães ou dos filhos, importo-me com aquilo que estou fazendo e principalmente com aquilo que deveria fazer e não estou.

Nessas horas, gosto de citar parte daquela música, quando eu me chamar saudade: “se alguém quiser fazer por mim, que faça agora...depois, quando eu me chamar saudade, não preciso de vaidade, quero preces e nada mais...”

E é assim que gosto de lembrar daqueles que partiram: alegremente e diariamente. Não preciso postar nada nas redes sociais, pois tenho consciência que apenas o meu ego estará vendo.

A lembrança é um coração pulsante e não um coração partido, pois se partido está, dói; e se dói, algo foi feito errado, mas o passado, ninguém pode mudar. No mais, cada um responde pelo que fez e pelo que deixou de fazer. Assim como cada um responde pela dor que carrega. E sobre o dia de hoje, a mim não diz nada.


segunda-feira, 5 de junho de 2023

Nossa realidade

 

Dali mesmo, da calçada, vejo um moleque sentado ou uma senhora, na calçada vizinha, como diria Raul: com a cuia de esmola na mão. Quantas vezes já falei sobre isso? Quando saio dali, da calçada, e pouco faço isso, venho para o trabalho, paro no "sinal" e chega um moleque pedindo pra eu comprar pastilha.

Eu nunca ando com células ou moedas. Meu dinheiro é aqueles números que o saldo do banco me diz possuir. Nego a compra e ele me pede uma moeda, digo que não tenho.

Mais que uma reflexão sobre a situação dessas pessoas, reflito sobre o que eu poderia fazer? Vejo políticas públicas voltadas para essa situação? Você vê?! Conte-me! No "sinal" são 3 pobres pretos, talvez irmãos que certamente nunca leram um livro, mal vão à escola e se vão, a merenda é péssima e provavelmente a sala é quente e são tratados como, na voz do capitão Nascimento: moleques.

Desconheço qualquer investimento social maior do que em educação. Nessa pandemia, demos, pois o governo dá o dinheiro que é nosso, bilhões e bilhões em auxílio emergencial; PEC's foram feitas, teto de gastos esquecido, filas que davam voltas em lotéricas e bancos..., mas você acha que algum livro foi comprado?

Eu soube de tabletes comprados pra crianças, mas só pra nós aqui, quem hoje consegue passar mais que 20 minutos lendo sem olhar um instante no celular? Aí você dá um tablete e espera que a criança estude? Os governantes não entendem as necessidades do povo; acham que é como dar comida a galinhas: só jogar o milho no chão e pronto!

Mas meu ponto aqui é simples: o real investimento em educação não é educar, mas sim tentar explicar onde se chega a partir da educação.

Estudar nos liberta. Se você acha que há uma escravidão eterna entre brancos e pretos, então qual é a vantagem? Por quê, até onde eu saiba, R$600 de auxílio não transforma ninguém. Sequer alimenta! Mas a educação, desde a base, sendo esta a mais importante e a mais negligenciada, é sim e sempre será o principal fator de libertação humana.

Assim como uma arma de destruição em massa, a educação é uma arma de construção da massa, mas não essa educação que só vê a valorização financeira dos profissionais. O dinheiro não faz uma causa; Professores tem que ganhar bem? Sim, assim como o faxineiro, o gari, o médico, o policial etc.

Todo profissional tem que ganhar bem! Mas a quem é relegado o salário-mínimo? Adivinhem? O trabalhador que provavelmente não estudou.

Nossa pirâmide social é gigante e ignorante. É daquelas que chega num estabelecimento de saúde público, é maltratada por profissionais despreparados ou mal pagos, com excesso de horas trabalhadas, médicos que dão plantões e mais plantões de 24hs, trazendo para si o cansaço de "atender esse povo" e acha, o povo, que a festa na praça, milionária, nada tem a ver com aquela situação.

Não estou falando especificamente da nossa cidade, mas sim, de todo país.

Não preciso sair da calçada para me informar que, mesmo em situação de emergência de saúde pública decretada pela pandemia, muitas prefeituras tentaram e fizeram festas e mais festas milionárias. O pão e circo nunca foi tão banalizado! Sequer disfarçam mais. Os políticos contam com sua ignorância para continuarem a criar problemas e soluções que nada resolvem.

Eu, sinceramente, estou cansado de ver a mesma coisa sempre. Todos querem mais e mais, mas ninguém está disposto a refletir sobre os reais problemas. Nem mesmo o povo quer, pois nem sabe que pode.

Vivemos a época do espelho e do smartphone. O culto narcisista ou a ode digital da aparência perfeita. Estamos muito apressados e ocupados com 300g de frango, 100g de arroz, 45cm de braço e whey! Nem os cílios são mais nossos. As unhas, postiças; a vida, “perfeita”. Ninguém caga e nem fede. Mas as crianças pobres continuam nas ruas. As ruas continuam esburacadas. A biblioteca pública tem livros desatualizados. As escolas, com professores valorizados ou não, continuam produzindo uma massa amorfa, disforme, mas altamente viciada em dopamina. É a dancinha do TikTok, o influencer, o clickbait, a curtida e tantas outras coisas efêmeras.

E interessante, que dizem que o atual presidente universalizou o ensino superior...não, ele facilitou o acesso a algo que deveria ser superior, difícil, custoso, trabalhoso, porém transformou a “universidade para todos” em uma universidade para qualquer um. Acabou com a reprovação no ensino fundamental. Institui piso para diversas carreiras, mas esqueceu, agora incluo todos os governantes, que a massa continua com seu piso salarial mínimo.

Mas tudo é de comum acordo com o povo; este, merece o governante que tem. O povo está cada vez mais sabido e cada vez menos inteligente. A vida virou aparência, enquanto a natureza do homem continua a mesma: longe do criador, querendo, a criatura, ser  maior que Deus!

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Fatoração


 

No mundo de hoje, é quase impossível não saber o significado de uma palavra ou expressão. Fatorar, na matemática, é uma série de divisões de um número; claro que posto de uma forma bem simplória! Até porque, matemática é de longe meu fraco!

 

Mas, mesmo assim, os problemas, tanto matemáticos quanto aqueles que a vida nos proporciona...ah, um belo parêntese aqui: a vida não se importa com as nossas circunstâncias! Frase mais que dita, sentida...voltando em 3,2,1... a vida nos dá oportunidade ou de continuarmos errando a fatoração dos problemas ou chegar a um denominado comum.

 

Costumo ver os problemas assim: identifico, racionalizo e fatoro. Dividir os problemas é a forma mais eficiente de atacá-los. Os problemas têm essa fraqueza existencial, pois são incapazes de resistir a uma mente equilibrada e sabedora daquilo que quer. Até porque, nada resiste a uma mente constante e equilibrada. Evidentemente, depende do tipo de constância a qual estamos nos referindo e ainda mais ao tipo de equilíbrio ao qual estamos expostos.

 

Ao fatorarmos os problemas, olhamos para o âmago de seu ser e nos apoderamos daquilo que nos antes era fraqueza. Aprendi, as duras penas, que só existe um alguém importante na nossa vida, e este somos apenas nós mesmos. Algo que sempre falo: se não existirmos, fisicamente, o que mais existe?

 

Há em nossa mente, na parte anterior do lóbulo frontal, uma região que nos faz refletir sobre o que estamos a pensar, sentir e afins. É como e quando olhamos para o que estamos pensando. É tipo aquela conversa consigo mesmo, tipo: por que estou pensando tanto nisso ou porque pensei nisso? Serei um monstro?

 

Não! Por sermos conscientes da nossa consciência, refratários de nosso destino, aqui, no sentido de sermos rebeldes, continuamos numa busca cada vez mais profunda, rumo a um desconhecido chamado nós. Não seria por isso, então, que a humanidade anda tão doente? Talvez tenhamos nos esquecidos que devemos servir ao senhor nós mesmos.

 

É isto, simples assim? Seremos nós apenas por nós mesmo? Jamais! É o que sempre diz o excelente Wesley Barbosa: somos mamíferos e como mamíferos, vivemos em bando. Ninguém é uma ilha e aqui, como todo tolo, morre a certeza. Não existe certezas ou coisas certas. Nos números também não existe algo absoluto, pois tudo é relativo a algo.

 

Divaguei, eu sei, mas divagar é preciso, é preciso e devagar. Nesse jogo de palavras, as frases se amontoam e entoam aquilo que mal consigo prever...começamos pelos problemas e terminamos pelas soluções. Tudo aquilo que nos é custoso, abandonar ou abraçar, é necessário para o nosso crescimento.

 

A reflexão faz parte da nossa vida. E, ao refletirmos diante da nossa miséria, ao sentarmos lado a lado com nossos problemas, olhando para eles de fora e um pouco mais de distância, veremos que eles não são tão grandes, feios e doídos como nos parecem.

 

Algo que carrego comigo desde hoje: um covarde diria “o que os olhos não vêm, o coração não sente”. Eis que me recuso a sentar lado a lado com um covarde! Problemas velhos não trazem novas soluções, pois a mais simples esperança de melhorarmos como seres humanos, vem da atitude de não aceitar as migalhas que caem da mesa, pois se há migalhas, há alguém comendo o pão.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Carnaval... “Lembro a saudade que hoje invade os dias meus; para o meu mal, lembro, afinal, um triste adeus”

 


Não sou um qualquer, menos ainda qualquer um; ninguém deveria ser, pois deveríamos todos sermos especialmente especiais, únicos em imperfeição. Mas dentre meus defeitos, a saudade, como uma roupa em farrapos, de tanto usá-la, se nega a partir. E eis que espero dela, jamais me despedir...pelo menos não tão cedo.

Estaríamos aqui, nesta época carnavalesca, rumando ao Triunfo, ali depois da Ibaretama, para a vivenda Sheila Maria. Um lugar onde várias outras tantas famílias se reuniram por décadas, em várias datas festivas, comemorativas e afins.

Mas nós, de posse do empréstimo da casa, íamos no carnaval. Eu não conheço esta data como a maioria das pessoas conhece. Como não bebo, não gosto de aglomerações, não cheiro e não fumo, sou tipo careta, mesmo sendo um baita sonso. Como diria Nelson: Só as paredes confesso...

E nessa infanto-adolescência, nesse tempo hoje tão saudoso, íamos passar o carnaval por lá, no Triunfo. Desde já, certa vez, fomos numa rural, salvo engano emprestada pelo chico Martins; era coisa demais nessa rural: desde gente, a comida e uns ótimos pães feitos pela “irmã suelo”.

Como muitas vezes fomos para lá, farei um mix de lembranças!

A viagem da rural era muito clássica. Desde a saída, aquele cheiro de fumaça, diesel e só deus sabe mais o que, ainda hoje entranha as lembranças. Chegado lá, íamos, digamos, fuçar os quartos, pois me diga se não é isso que os ratos fazem quando os gatos saem? Melhor dizendo, íamos direito olhar piscina!

Não éramos pobres, mas, porém, humildes demais para ter uma piscina em casa. A piscina pequena, mas era a glória em forma de buraco e água. Simples, não?

Papai já se ajeitava com seu som cassete e as eternas marchinhas carnavalescas. Era fita atrás de fita; era o que se tinha de mais perto de uma folia! Deus sabe o quanto era bom aquele tempo...

Mas a piscina não estava cheia. Tínhamos que esperar pelo menos um dia pra que ela enchesse. Na primeira noite sempre existia essa expectativa da piscina encher. Passávamos a noite acordado, tentando fazer o outro ter medo do quadro do Mickey. Juro, ele era fantasmagórico! Reza a lenda que o Mickey se mexia no quadro. Era um terrorismo total.

Mal raiava o dia e já estávamos lá de pé, frente a piscina. Não importava se tinha enchido ou não, o que importava era que tinha água no buraco e dava, quase, pra fazer aquele “timbum”. Porém, estamos esquecendo a merenda. Recordo demais o nosso saudoso Joel, olhando pra mim querendo perguntar quanto de café tinha que colocar na xícara. Certamente, tanto ele quanto o “dodim” jamais havia tomado Nescafé. Eu, sem muita malícia, disse que podia botar o quanto quisesse...eis que botaram café demais! Porque você colocar 3 ou 4 colheres de café numa xícara...Nunca esqueci isso!

Passada a fase da acomodação e estadia, a piscina era o foco. Enxia, não enxia. E papai já estava trabalhando naquele litro de cana. Pra ele, que jamais havia comido chocolate e não sabia o que era beber Coca-Cola, cachaça era o extase! Litro e meio desciam fácil...

Mas o que mais me impressionava nele, era a capacidade de beber sozinho, escutando um mix de carnaval-marchinha e “a volta do boêmio”. Não havia nada que o atrapalhasse. Perna cruzada, cigarro na mão, óculos escuros, fita ia fita vinha e ele não dava uma palavra.

O que tento hoje a todo custo, fazendo meditação ou respiração controlada, papai fazia com cana, um sonzinho e o eterno cigarro. Ele entrava num flow inatingível. Vez ou outra alguém gritava lhe perguntando algo e ele, acho eu, nem escutava, assentia com a cabeça. Ninguém sabia se era sim ou não, mas estava respondido.

O meio-dia chegava e com este chegava o almoço. Nós, meninos, mulheres e crianças, não tínhamos a prioridade de comer primeiro, era o atual dono da casa; um flagrante caso de respeito aos mais velhos!

Até aí, aparentemente, nada demais, mas era uma cena foda! Papai comendo aquela panelada quente, com cuscuz e arroz, levantava-se e sem nada dizer, mergulhava na piscina. Ficávamos absortos, incrivelmente maravilhados com a destreza e a coragem, pois quem tem essa coragem de mergulhar numa piscina após comer uma comida quente e pesada quanto aquela?

Diga-se de passagem, até hoje a mamãe diz pra não abrir a geladeira, porque ela comeu caldo quente...minha mãe, o que é um caldo quente e uma geladeira, frente a um mergulho triplamente qualificado, após uma panelada! Claro que se ele estivesse aqui, diria a ele que sobreviveu ao mergulho, mas...

Saía ele doutro lado da piscina, com aquele calça azul-marinho e pasmem! De óculos. O homem era um super-herói! Voltava, sentava, uma terça de cana e mais marchinha.

Aqui uma coisa interessante: com o passar e o avançar do dia, a marchinha dava lugar a “boemia”. Aparentemente papai já roía muito antes de conhecermos Bruno e Marrone ou a lendária Marília Mendonça. Aqui cabe dizer que será o nome da sua neta, meu pai, Marília.

Voltamos...

Nelson Gonçalves, Amado Batista, Ataulfo Alves, Reginaldo Rossi e tantos e tantos outros, faziam a festa!

Como disse logo no começo “lembro a saudade que hoje invade os dias meus...” Que me desculpem todos os viventes, mas até hoje, só consigo lembrar e chorar, ao mesmo tempo, deste homem chamado meu pai.

Todo tem seus amores e suas histórias, dedicando publicações e fotos, mas eu tenho uma vivência e admiração por este meu pai. Não por ter sido alguém, mas por ter sido tudo que eu jamais serei. Posso fazer mais e melhor, mas nunca igual.

Os carnavais irão passar e com ele novas histórias, boas ou ruins, mas nada se comparará a estar naquele Triunfo, com aquele ambiente, com aqueles que já partiram. Só tenho a homenagear e pedir a deus que tudo transcorra da melhor forma possível.

Que todos tenham um bom carnaval, mesmo eu não gostando da data...como disse antes, nada se compara com aqueles velhos e bons tempos...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

É Morro abaixo

É o pensamento indolente
A clareia no deserto.
É como estar por perto,
Mas distante e inclemente.

É o afoite sem dor
O vago de pensamento
É como estar, por dentro,
Aberto ao ódio e ao amor

Ao mesmo tempo
Ao mesmo fim
Ao quem sabe
Ao aí de mim.

Aqui não cabe
Por isso transborda
Mas ninguém sabe
O quanto importa.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

nada mais que a verdade

Como meu avô paterno, Carlos Nogueira de Milão, morreu quando eu tinha pouco mais de 6 meses, coube ao cabo Edi ser a imagem de um avô. E assim vamos nós...

Lembrar de coisas boas, saudosismo, é como sentar a beira da estrada da vida e olhar em perspectiva. Claro que muitas histórias eu ouvi; coisas que iam e vinham na minha imaginação; coisas tipo fazer mel de rapadura pra sustentar uma família com 10 filhos, ou passar longos anos com apenas 3 cartuchos de 7.62mm quando era “delegado” na várzea da onça... mas gosto, não só de sentar à beira da estrada, mas ir e vir com os carros que passam e sentir o que eles dizem.

Certa vez, meu avô materno, cabo Edi, precisava ir na maternidade aqui de Quixadá. Aparentemente, não havia quem fosse com ele e eu me dispus a ir. Ele de poucas palavras, mas de passos rápidos, saímos rumo a maternidade. Não perguntei o que ele ia fazer lá, mas certamente não me importaria, pois uma viagem dessas era ir e voltar sem ter tempo pra pensar.

Num determinado ponto da ida, notei que tanto eu quanto ele nos alternávamos do lado direito da calçada; era como uma corrida de carros, onde estar do lado de dentro da curva faria toda a diferença. Vi que ele não fazia qualquer esforço pra andar mais rápido que, tanto que eu disse a ele: “meu vô, leve a mal não, mas vamos mais devagar”.

Acho que ele pensou que eu havia dito isso por causa da idade dele, que certamente já beirava os 70 anos ou mais; porém, como sempre fazia, ele se fazia de doido pra melhor passar e continuamos rápido.

Eu era novo, não tinha 30 anos, mas estava penando para acompanhar o ritmo! Ele sempre fazia uma caminhada toda manhã, cedo, madrugada e eu, sei lá o que fazia, mas com toda certeza eu teria muito, e tenho, que me esforçar pra acompanha-lo, tanto na idade como na vida.

Mas continuava a troca de lados na calçada, mas sempre era a disputa pra quem ficava do lado direito. Numa certa altura da viagem, disse a ele: “meu vô, me diga uma coisa, porque é que você só anda desse lado da calçada?” A princípio, acho que ele, mais uma vez, se fez de doido e só andou...e agora, ainda mais rápido.

Caba do sertão, ligeiro, não tem tempo pra enxugar o suor nem dar conversa a gente besta; nesse caso, com toda certeza, besta era eu. Ele lidou com gente ruim; contava que certa vez, prendeu um meliante na várzea da onça e trouxe o caba amarrado pelas mãos, até a cidade. Trouxe, literalmente, quase arrastado. Ele veio de cavalo e o bandido de pé. Imagine isso nos tempos de hoje...

A viagem continuou e continuou e chegamos novamente em casa. Dom lucas, 251, campo velho. Eu estava suado demais para perguntar mais alguma coisa. Estava cansado demais! Mas nunca deixei de me perguntar, pois ele nunca me respondeu: por que o senhor só anda do lado direito da calçada?

Noutra feita, saia eu de casa dizendo a minha mãe: vou lá no vô. Esse dia foi épico! Eu vi o que não vi! Atenção, só sou responsável pelo que digo, mas não pelo que você entende ou acredita.

Seria apenas mais uma das centenas de visitas que eu fazia... quando cheguei na esquina, da famosa zeneide, lá estava ele na janela. Até aí tudo normal, pois eu fiz esse trajeto centenas de vezes.

Já pisando na calçada, fui longo pedindo a bença; ouvi o “deus abençoe” e não vi mais nada. Quando cruzei a porta, ele, que estava na janela, não estava mais lá! Parecia que eu havia cruzado um portal! Eu olhei, andei mais uns passos e ouvi uma voz atrás de mim, na janela, dizendo: não me viu né?

Fiquei, como ainda até hoje estou, sem entender. Eu cheguei e ele estava na janela, quando passei pela porta ele não estava mais lá! Eu conto e ninguém acredita: meu vô ficava invisível! E ele ficou.

Por vezes me pergunto se eu mentiria sobre alguém que já faleceu. Acredito que não. Mas de qualquer forma, foi o que não vi, literalmente, o que aconteceu. E ele ainda se regozijou, dizendo: não me viu, né?

Não mesmo.

Mas ele explicou que era uma oração que ele fazia, mas que demandava muita energia ou coisa do tipo e que não era algo que sempre fazia. Aparentemente, era algum tipo de poder místico ou sei lá o quê; de qualquer forma, sei o que não vi.

Poderia dizer mil outras coisas; poderia falar da vez que passou um homem vendendo rede e ele fez o homem mostrar umas 10 redes e no final disse que não dormia de rede porque tinha diabetes. Eu olhei assim e fiquei sem entender. Mais ainda ficou sem entender o vendedor de rede. Que tinha a ver diabetes com dormir de rede?

Falando em rede, ele me disse e carrego comigo até hoje essas palavras: meu neto, se você ficar dentro duma rede, o máximo que pode acontecer é o punho quebrar e você cair no chão... muita verdade nessa frase.

Leitor da bíblia, pai, humano, fraco e forte, tudo isso foi meu avô. Costumo pensar que não existe honra nesse mundo que vivemos, mas existe história e essa ninguém pode nos tirar. Aprendi muito naquela janela, desde o que fazer ao que não fazer, onde via idas e vindas, boas ou ruins, de frente ao cabaré ou de costas para a casa, dizia-nos ele o que a vida não é, pois o que ela é, todos nós sabemos.

A vida é, nas palavras dele, tudo aquilo que fazemos pelo lado direito da calçada: é o lugar mais seguro para se andar; e tudo isso sem muitos motivos, apenas é o que é.

sábado, 21 de janeiro de 2023

menino

Cresça, menino, cresça
Comece tudo sozinho.
Depois, quem sabe, apareça,
E me conte sobre viver sozinho.

Desça, menino, desça 
Seu pedestal é seu moinho.
Esqueça, mas não esqueça,
De lembrar de nós  só um cadinho 

E nesse balanço noturno
Um som faça lembrar de nós
Quem sabe estejamos sós 
Ou ocupados demais com o futuro.

Sexta, menino, sexta,
Não será a feira de corações?
Besta, mas é besta
De pensar em tantas emoções...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

"Criança "

Não sei o que é verdade,
Meus olhos vivem cansados.
Se os abro, perversidade.
Se os fecho, chego a sonhar.

Então que mal nisso há?
É normal piscar com um cisco
É mal deitar se preciso
Ou então, é tudo ilusão?

Dizem não ter perdão
É crime, de fato, se meu ato
Foi sonhar demais.

Aquele tempo atrás...
Não voltará!
Será?

Prefiro ir de olhos abertos,
Pois se fomos descobertos
É só mergulhar.

Que mal nisso há?
Ninguém sabe, ninguém destrói
Te corrói, será?

Me dê sua mão e venha
Não se detenha
Confie!

Desfile seu esplendor
Sem qualquer avareza
Deixe lucro, não despesa!

Não tenhamos pressa
A felicidade partiu
E se saiu...

Vamos com os olhos pensar,
Falar bem baixinho,
Tudinho...

Já não sei o que não é verdade 
Com a idade, meus pensamentos
Tornaram-se lentos, rabugentos
Não são nada além de ilusão...

Então, porque não ficar?
Sentado, vagando, andando
Rimando, postergando, aliviando,
Abrindo os braços aos abraços!

Que o vento na brisa te leva
Te eleva, pois é bom flutuar!
Quem anda despreza 
Mas é o que temos pra dar.

Raiva, os teus olhos de ódio 
E os meus fechados.
Não quero ver outro episódio,
Com meu coração queimado.

O último recado, prometo:
Somos bons e sujeitos,
Cheios de predicados
Objetos diretos e adverbiais.
Sinais, menos é mais 
Mais com menos, jamais!

É um jogo de olhos fechados
Pois a verdade é sua versão.
Então, mesmo neste estado
Fechados, vejo melhor que você.

Eu sonho, me decompondo,
Me indisponho, risonho
Petrificado, instado, aliviado,
Medonho...é você mesmo, aí?

Aqui, ali, um longo texto
Um pretexto, um detesto!
Protesto, pula esse "esto",
Vamos indo, caindo.

Prometo, último soneto:
Nem depois nem antes da morte,
Em meio a qualquer circunstância
Nao foi sorte, nem destino,
Rumino, menino, crítico...
Você não lerá, 
Pois o privilégio
É colégio,
onde analfabeto não há.

Agradeço, o apreço 
E o tempo desperdiçado 
Num estado de pura e plena penúria
Nos "alúia", "alumia",
Que a antes...
Agora é senhorá.