segunda-feira, 5 de junho de 2023

Nossa realidade

 

Dali mesmo, da calçada, vejo um moleque sentado ou uma senhora, na calçada vizinha, como diria Raul: com a cuia de esmola na mão. Quantas vezes já falei sobre isso? Quando saio dali, da calçada, e pouco faço isso, venho para o trabalho, paro no "sinal" e chega um moleque pedindo pra eu comprar pastilha.

Eu nunca ando com células ou moedas. Meu dinheiro é aqueles números que o saldo do banco me diz possuir. Nego a compra e ele me pede uma moeda, digo que não tenho.

Mais que uma reflexão sobre a situação dessas pessoas, reflito sobre o que eu poderia fazer? Vejo políticas públicas voltadas para essa situação? Você vê?! Conte-me! No "sinal" são 3 pobres pretos, talvez irmãos que certamente nunca leram um livro, mal vão à escola e se vão, a merenda é péssima e provavelmente a sala é quente e são tratados como, na voz do capitão Nascimento: moleques.

Desconheço qualquer investimento social maior do que em educação. Nessa pandemia, demos, pois o governo dá o dinheiro que é nosso, bilhões e bilhões em auxílio emergencial; PEC's foram feitas, teto de gastos esquecido, filas que davam voltas em lotéricas e bancos..., mas você acha que algum livro foi comprado?

Eu soube de tabletes comprados pra crianças, mas só pra nós aqui, quem hoje consegue passar mais que 20 minutos lendo sem olhar um instante no celular? Aí você dá um tablete e espera que a criança estude? Os governantes não entendem as necessidades do povo; acham que é como dar comida a galinhas: só jogar o milho no chão e pronto!

Mas meu ponto aqui é simples: o real investimento em educação não é educar, mas sim tentar explicar onde se chega a partir da educação.

Estudar nos liberta. Se você acha que há uma escravidão eterna entre brancos e pretos, então qual é a vantagem? Por quê, até onde eu saiba, R$600 de auxílio não transforma ninguém. Sequer alimenta! Mas a educação, desde a base, sendo esta a mais importante e a mais negligenciada, é sim e sempre será o principal fator de libertação humana.

Assim como uma arma de destruição em massa, a educação é uma arma de construção da massa, mas não essa educação que só vê a valorização financeira dos profissionais. O dinheiro não faz uma causa; Professores tem que ganhar bem? Sim, assim como o faxineiro, o gari, o médico, o policial etc.

Todo profissional tem que ganhar bem! Mas a quem é relegado o salário-mínimo? Adivinhem? O trabalhador que provavelmente não estudou.

Nossa pirâmide social é gigante e ignorante. É daquelas que chega num estabelecimento de saúde público, é maltratada por profissionais despreparados ou mal pagos, com excesso de horas trabalhadas, médicos que dão plantões e mais plantões de 24hs, trazendo para si o cansaço de "atender esse povo" e acha, o povo, que a festa na praça, milionária, nada tem a ver com aquela situação.

Não estou falando especificamente da nossa cidade, mas sim, de todo país.

Não preciso sair da calçada para me informar que, mesmo em situação de emergência de saúde pública decretada pela pandemia, muitas prefeituras tentaram e fizeram festas e mais festas milionárias. O pão e circo nunca foi tão banalizado! Sequer disfarçam mais. Os políticos contam com sua ignorância para continuarem a criar problemas e soluções que nada resolvem.

Eu, sinceramente, estou cansado de ver a mesma coisa sempre. Todos querem mais e mais, mas ninguém está disposto a refletir sobre os reais problemas. Nem mesmo o povo quer, pois nem sabe que pode.

Vivemos a época do espelho e do smartphone. O culto narcisista ou a ode digital da aparência perfeita. Estamos muito apressados e ocupados com 300g de frango, 100g de arroz, 45cm de braço e whey! Nem os cílios são mais nossos. As unhas, postiças; a vida, “perfeita”. Ninguém caga e nem fede. Mas as crianças pobres continuam nas ruas. As ruas continuam esburacadas. A biblioteca pública tem livros desatualizados. As escolas, com professores valorizados ou não, continuam produzindo uma massa amorfa, disforme, mas altamente viciada em dopamina. É a dancinha do TikTok, o influencer, o clickbait, a curtida e tantas outras coisas efêmeras.

E interessante, que dizem que o atual presidente universalizou o ensino superior...não, ele facilitou o acesso a algo que deveria ser superior, difícil, custoso, trabalhoso, porém transformou a “universidade para todos” em uma universidade para qualquer um. Acabou com a reprovação no ensino fundamental. Institui piso para diversas carreiras, mas esqueceu, agora incluo todos os governantes, que a massa continua com seu piso salarial mínimo.

Mas tudo é de comum acordo com o povo; este, merece o governante que tem. O povo está cada vez mais sabido e cada vez menos inteligente. A vida virou aparência, enquanto a natureza do homem continua a mesma: longe do criador, querendo, a criatura, ser  maior que Deus!