sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

“Malagradecidos”!

Movam os discos empoeirados da vitrola.
Que tantos discos são estes? Servem ainda?
Servem pra sentir os dedos no passado,
Servem seus donos como finco a nostalgia.
Carecem de sabor e enegrecidos de poeira
Passam tempos e tempos sem mover...
A máquina que não redemoinha.
A sorte que esquecida pela “engancho”
Vai de vento em vento num suave redemoinho...
Olha como roda... Olha como me olha!
Vem distante seu sabor, ainda esquecido,
Deixando-me sem palavras, mas com saudade.
Dos bailes. Das marchinhas. Dos pierrôs.
Das noites sem tanta luz. Do mudo som da noite.
Das roupas que tanto me serviam. Do luar.
Do gelado e enegrecido sabor da vida.
Aonde os tempos bons foram?
Por que me deixaram aqui pra morrer de saudade?
“Malagradecidos”! Tantos que lhes dediquei...
Uma vida inteira “de vitrine”!
Querendo-os e sem ver que o tempo passou,
E não pude comprá-los. Nada pude fazer e tê-los.
Atrás de mim passou o tempo. Passou a banda.
Não existe mais praça. Foram-se as modinhas.
Acabou pirraça. Morreu Colombina. Morreu Amélia.
João se foi; se foi José. Passou a vida,
E eu só consegui ficar, aqui, em pé.

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