sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Temos que reagir!

Meu avô, PM reformado, já com seus 86 anos, sempre me conta que houve uma época, onde ele era o único homem da força policial na localidade de várzea da onça. Lidava com as situações cotidianas de um policial militar à época: briga de bar, alguém que bateu na mulher, uma facada aqui, outra acolá... tudo isso e muito mais, munido de fé e 4 cartuchos anuais de um fuzil 7.62, vulgo Mosquefal.
Mas uma história dele me chama atenção: conta que certa vez, e era normal isso acontecer, ele saiu de casa com o fuzil, mas sem os cartuchos... O respeito era outro e quem é que ia querer saber se tinha bala ou não? Enfim, numa briga grande no bar, ele rendeu, sozinho, todos os presentes. Foi tipo "mãos pra cima, quem se mexer vai virar o pé". O silêncio se fez presente até hoje! Nessa briga, alguém tinha levado um "furada". O tal furador era recorrente e há muito vinha enchendo o saco. Meu avô resolveu levá-lo pra cadeia, esta que estava distante pouco mais de 2 léguas, em Quixadá.
Não tinha carro pra trazer o meliante. Ele então montou num cavalo e trouxe o "cidadão", com as mão amarradas por uma corda e veio puxando de lá até a cadeia que era localizada na sede de nossa amadíssima cidade.
Hoje em dia, tal tratamento, fazer um pobre homem, amarrado pelas mãos, andar até a cadeia, seria  um caso típico de Controladoria Geral de Disciplina; advogados e o Direitos humanos, já estariam com o processo, petições, busca e apreensão dos cartuxos, que estavam em casa, e pedindo o seu certo, por "justiça", afastamento, prisão e só deus sabe mais o quê! Meu avô é lendário...
Naquele tempo a vida era difícil, mas havia respeito. A polícia era pouca, mas era tinha respaldo. Acredito que nem era algo a ver com a farda, mas sim algo relacionado ao respeito entre pessoas e instituições.
Conto essa história, pois hoje a sociedade mudou muito e pra pior; muito pior.
O direito de punir é estatal. Desde que se criou a república, ficou a cargo do Estado, punir. Pune-se bem ou mal, é um problema que cabe a sociedade, eleitora, e aos seus representantes, eleitos, darem "cabo" da situação.
Indo mais além, escutando um amigo policial que diz estar há 5 anos sem receber aumento salarial, sempre conto a ele esta história e ele sempre me diz: " bom, ali era outro tempo". Realmente, não vivi aqueles tempos, mas pelo menos ouvi dizer...
Esse pequeno texto serve como pretexto para "linkar" outra realidade. Adversidades sempre existiram e existirão; o que não pode continuar a prevalecer é anuência com certas condutas sociais; praticamos uma complacência com os maus feitores, em detrimento aos que trabalham para apenas sobreviver.
Meu avô, solitário, se arriscava pra sustentar os 10 filhos que tinha. Não saia pensando se ia voltar, pois não existia tal coisa na sociedade e se existia, era impensável.
Não existe realidade, boa ou ruim, sem a ação ou omissão da sociedade. Vivenciamos momentos desconstrutivos, onde a intempérie do caos social, está destruindo mais rápido do que podemos pensar.
Muitas vezes caímos na banalização do "coitadísmo". Mitigamos nossa revolta, olhando de lado ou nem mesmo olhando.
Uso a patente militar de soldado de 2ª classe que fui, do exército brasileiro, como escudo indissolúvel do meu dever cívico com o Estado. Nunca vi nada mais injusto que a hierarquia, mas, de longe, nada mais natural que ela. Porém, a maioria pensa o contrário, que é o Estado que tem que servir. Não, não mesmo. Arriscar a vida sem a certeza de estar fazendo sua parte? Não saia de casa, mude de profissão. O guerreiro não distingue direito do dever; apenas é a ponta da lança e esta, não pensa, cumpre o que lhe foi mandado.
É como disse ao meu amigo: "Se acha que está ganhando pouco, sendo mal remunerado, pouco valorizado, estude mais e procure outro emprego." E você, cidadão do bar, botando seu boneco diário ou semanal, aprenda a votar e pare apenas de reclamar.

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