quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

O ambiente de trabalho e suas fases existenciais

Desde 2012 que sou concursado da prefeitura municipal de Quixadá. Coincidentemente, a minha data de posse é o dia do meu aniversário. Um presente? Até hoje, sim e não, mas um definição melhor seria: não sei dizer.
Nunca fui de grandes feitos estudantis ou mirabolâncias no empreendedorismo. Talvez "descansado" demais na vida adulta, aliás, "talvez" não, com certeza, totalmente descansado! Enfim, sou um pacato cidadão, uma pessoa com seus altos e baixos; imperfeito por natureza e perfeito pelas redes sociais, mas sou aquilo que veem.
A prefeitura foi, nessa visão de um alguém um pouco descansado da vida, uma grande oportunidade de sair e conhecer o serviço público. Dias bons e ruins permeiam nossa vida, mas nas administrações municipais, dificilmente temos dias bons. Há um ar poluído demais pela política. Um viés partidário, um entrave institucional, uma faceta desagradável; sinto-me em dizer: algo não muito legal. Mas qual o motivo dessa não legalidade? A pessoalidade do local de serviço e sua politização.
Tudo numa prefeitura deveria ser impessoal. A máquina administrativa, pra mim, pelo que faço no meu atendimento ao público, é impessoal. Já fiz poucas coisas, mas já vi e ouvi coisas indizíveis!
Já fui insultado, levado a delegacia, cuspido, achincalhado, já fiz de conta que não era comigo, mas nunca fui antipático ou refratário com o serviço que presto.
Certa vez, recebi um novo funcionário. Alguém que se achava meu chefe me ligou e disse: "Trate bem esse bacural, é petista doente". Logo na chegada desse "bacural", tratei de chamá-lo na sala, pois eu era seu chefe na repartição e lhe disse: " cara, sei que você está meio receoso de vir pra cá, pois você já teve alguns problemas de ordem política, mas aqui nesse local, política é lá fora. "
Paguei logo uma merenda ao rapaz e todo dia íamos fazer esse lanche, como se não fôssemos nada além de funcionários. Fui criticado por "só vive de amizade com os bacural"...
Nunca esqueci isso; não a forma que tratei o rapaz, mas o poder que eu tinha de deixar de fora questões partidárias. Mas um poder, não de forma totalitária, mas algo mais pro lado da chance de poder fazer diferente.
Essa é claramente uma questão que coloco de forma positiva. Poderia aqui contar atrocidades contra mim cometidas, coisas que poucos teriam aguentado calado, sem partir pra violência. Mas essa é uma coisa que não vale a pena ser escrita aqui.
A política constroi, mas também destroi. Nossa cidade, dividida entre os poderosos e os empoderados, e por vez, se não todas as vezes!, vive esse caos especulativo. É como se uma sombra pairasse sobre a cidade, vinda de um céu que muda de cor de 4 em 4 anos. Um solo sem sol não prospera.
Admito que atualmente, "nada" tenho a reclamar. Pouco estou com os ambientados no serviço. Meu trabalho é solitário, por vezes doloroso, quente e barulhento. Trabalho com a dor alheia, mas não a trato de modo frio, pelo contrário, sou rigorossísimo em dizer: "lamento sua dor, mas deus irá confortar." Não sou um ateu dizendo isso, mas alguém descrente do que a maioria acredita.
Sendo assim...
O mínimo que um servidor pode fazer é ser empático. Não deve haver simpatias, nem processos burocráticos demais. Estamos ali "pra resolver".
Como no começo do texto, para mim, estar ali é se sentir útil e faço isso sendo, mais uma vez, empático com os que atendo. Meu local de trabalho é sagrado, tanto quanto a dor de quem lá procura o serviço. Não existe o "eu", lá existe a minha obrigação de bem tratar e ser, de novo, EMPÁTICO.
Sou sincero em dizer que nunca esteve bom. Talvez nunca fique. Não existe, por vezes, o respeito com as necessidades; por outras, estas necessidades, por nós, são confundidas por benefícios pecuniários, dinheiro a mais, ou um cargo pra ganhar melhor.
Sei do anseio das pessoas de ganhar melhor, mas muito melhor do que isso é se sentir valorizado. Ver nos olhos de quem é seu chefe, no mínimo, EMPATIA. O servidor, pessoalmente e individualmente, talvez nem mereça, mas é obrigação que a hierarquia seja condizente com as melhores práticas da LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE, MORALIDADE e afins.
A boa prática política é feita de convencimento, e não de cara feia, antipatia ou intimidação. Fui EMPÁTICO com o "bacural", pois a impessoalidade me era obrigatória. Fui e sempre serei, enquanto lá estiver, aquele cara que vê, escuta, mas não sabe de nada. Calado como um porco-espinho, porém atento às nuances dos ventos que me chegam.
Mais uma vez: a política não deve adentrar pela porta do serviço público, nem que seja boa para mim e ruim para o oposto. O respeito é a chave para a boa convivência, onde a empatia é obrigação.
Sou servidor do município que deve prestar um serviço, nem bom, nem ruim, mas que satisfaça as necessidades de que o procurar.

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