quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

A sociedade e suas convenções.

Ser cordial é mais que uma obrigação,  é necessidade e necessário. Tenho nesses últimos tempos, tentado dar a algumas palavras, além do seu valor semântico, uma personalidade, uma perspectiva. As palavras foram feitas para a comunicação, simples e objetiva; o que o homem fez depois, foi apenas interesse pessoal.
Dentro deste estado de coisas, a sociedade se compôs em convenções, propósitos, sinais e sintonias, como se fosse um pequeno ser que quer agigantar-se. Os valores linguísticos deixaram de ser apenas comunicação e passaram a ter relação com a personalidade. Criamos personagens em si mesmos e objetos comunicativos consonância com um tipo próprio de cada indivíduo.
É normal o "arrodeio" para ir direto ao assunto. Dizer "bom dia" ou um "olá", é a mesma coisa? Se estivéssemos num primeiro contato, ou numa primeira palavra em vida, qual das duas seria?
Imagine a cena, fixe-se em algo bem espalhafatoso, num pensamento quase impossível,  o quê diríamos? Convencionados. Tudo é absolutamente dentro dessas convenções. Alguém num dia ruim, subjetivo, passar e não oferecer aquele " bom dia", é inaceitável. 
Nossos ancestrais nômades, talvez não se dessem a este trabalho,  talvez tinham coisas mais objetivas a fazer. Da mesma forma, acredito, com essa sociedade cada vez mais desconectada, que num futuro bem próximo, nem falaremos mais. Assim, com algum tipo de neurotransmissor, nos comunicaremos através da telepatia quântica ou moveremos coisas com apenas um clique no cérebro. 
Voltando ao assunto, pois "divagar é sempre", existem e me incluo, pessoas desconectados demais uns dos outros e pessoas sensoriais demais, para contactar-se e interagir de forma verdadeira. Essas convenções que relato, para mim, não é uma questão de primeiro contato, mas sim e apenas, aquilo que se convencionou chamar de educação. 
Há bandidos, há rebeldes, há chatos, mas principalmente, há necessidade? Nem todo dia é dia de sol, assim como nem todo dia é dia para um "bom...". 
Claro que a corrente majoritária, aquela dos frios apertos de mãos, aquela do "Como vai, tudo bem?", não está realmente interessada, apenas convencionou-se a fazer isto.
Prefiro a ausência de um olhar sincero, que a convenção de um aperto de mãos frio. Muito do que carregamos no dia a dia é necessidade de autoafirmação e reconhecimento. 
Se não há reciprocidade naquilo que desejamos, qual a necessidade de proferirmos quaisquer palavra que seja? "Deixa" passar.
Sou fã do "oi": inócuo, inodoro, mas acertativo. Um "olá " já é mais avançado. Vislumbra-se nele possibilidades. "Bom dia" é mera especulação,  vazia, reticente, esdrúxula, carente e educada demais.
Porém, preferimos a educação à eficiência da possibilidade. Qual foi a primeira palavra escrita, alguém sabe? Com toda certeza não foi a redundante e óbvia convenção na qual vivenciamos até hoje...

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