sábado, 19 de maio de 2012

Eu já tive medo de perder no par ou ímpar.


 Armaduras, chifres e “super poderes”: coisas de herói. Tempos bons e duradouros em minhas lembranças. Tempos onde o medo era ficar "de time fora". Tempos onde os amores eram eternamente praticados, mesmo eu não sabendo o que era amor.
Eu tive tempo pra perder de vista meus brinquedos, meu irmão os quebrava. Ele era o "maior" de todos os meus medos; mas não adiantava, quebrava tudo!
"Eu era pequeno, eu me lembro..." Dizia a cantiga da escola. Éramos invencíveis! Super-heróis éramos nós, comandados por pais e mães eternos...
Brigas? Só por uma tal democracia; uns velhos que gritavam por ela. Brigas? "Meus brinquedos"! Amores não existiam, eram contos de fadas, e assim como tais, não eram de verdade.
Eu ainda pequeno, descobria o amor do meu jeito. O amor era pega-pega. O grito ainda não virara sussurro. Os dentes caiam e formavam minha única dor. Lacunas no rosto e perguntas sem respostas. Eu conhecia meu primeiro amor, mas não sabia o que era amar.
O amor era o irmão. O pai o carão. A mãe solidão. Do avô eu era a paixão. Da avó a vida e a razão. Eu era lindo de morrer...?! E alguns deles se foram mesmo. Não entendia a vida e como ela se fazia presente todos os dias. Tudo acontecia se que eu soubesse de nada; não controlava nem a respiração.
“Meu joelho, meu pé, meu olho doía”. Tudo eu fazia pra chamar a atenção. Eu era criança entre meninos e meninas, eu era quase nada de tão pequeno. Eu era a inocência e a razão das idas e vindas da vida.
Eu, ainda pequeno, já era o amor de tantos e a felicidade de muitos. Apenas estar ali já bastava a quem me amava. Eu não era maior, nem menor, era pequeno, e como muitos como eu, eu era especial.
O amor que fora eterno, de tão concreto se quebrou. Meu amor que nunca mais vi, fui embora. Meus medos tomavam forma e ganhavam nomes. Estranhos nomes e cores. Eu já não era tão “bunitinho”. A bochecha não era mais apertada. Morrerá “o meu amor”?
O amor virará adulto. A vida vivara dor. O irmão foi embora. Os brinquedos eu não tinha mais. A fome não existia, mas os amigos se multiplicaram. Fui jogar bola.
Fui ver o trem passar. Fui ser feliz como nunca tinha sido antes! Fui ser o astro do meu espetáculo. Descobri que a vida nos dá vários papéis. Que o drama faz parte daquilo que eu tinha chamado de amor. A tragédia que antes fora apenas morte, eu já entendia melhor como parte inerente da vida. Fui correr. Fui nadar. Fui fazer chover. Fui jogar bola. Chutei a vida pra tão longe que nunca mais voltei... Até que hoje aconteceu.
Hoje não é agora, hoje é ontem. E ontem parece que foi hoje.
O amor mudou novamente, e com ele suas regras. Virou um cada um por si, e alguém por todos. Nada de eternidades ou sonhos de faz de contas, somente sofrimento e desilusões; muitas delas. Dias difíceis, mas contornáveis. Tanto que o hoje aconteceu.
O amor mudou minha vida. A vida mudou com o amor. A mudança mudou os dois, e me mudou. Hoje já é possível andar sem meus brinquedos, eles mudaram também. Não machuquei mais o joelho, o pé, mas o olho ainda dói: miopia. Cai e levantei, e o amor? Está quase virando a esquina da vida, indo embora como eu fui um dia.
O amor que falo é aquele que dura pra sempre; aquele que só existe na mente de uma criança inocente que não sabe o que é o amar.

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