segunda-feira, 12 de março de 2012

Conto um.

Pedro e João passeavam pela cidade. Há muito os dois não se falavam, pois Pedro havia ido morar na capital. João querendo demonstrar ainda conhecer tudo e todos, onde passava fala deste ou daquele... E normalmente não falava bem...
Em determinado instante, Pedro, falou:
__Amigo, nessa sua cidade há alguém que preste?
Ele pensou um pouco e disse:
__Sim, como não haveria!
E logo ouviu outra pergunta:
__Esse alguém seria você?
Os amigos riram e por alguns instantes calaram. Andaram mais um pouco e avistaram um velho, maltrapilho e alvo fácil para qualquer escritor mediano.
Ao avistá-lo, cada um teve a reação que podia ter. Um falou rapidamente ir por outro lado; já o outro relutou e, intrigado, resolveu seguir em frente até o velho senhor.
Ali parado, praticamente jogado as moscas, o pobre e por que não, coitado, dividia seu espaço com seu receptivo cão que não poderia ser tão sujo quanto o chão que os dois abraçavam.
O visitante logo perguntou o nome do velho e de seu cachorro e, depois disse:
__Olá senhor, posso ficar aqui um pouco?
O velho deu de ombros, mas não se esqueceu de aparentar estranheza com a situação:
__Pode ficar a vontade, meu filho.
Visto a distancia segura, João não se movera. Pedro achou melhor deixá-lo por ali mesmo e falar com o velho sozinho:
__Conte sua história.
Argumentou Pedro.
O velho riu e disse:
__Pois não, meu filho! Sou velho, sujo e abandonado; as pessoas só lembram de mim quando sentem pena. Família?! Mesmo que existisse, essa é uma palavra ultrapassada. Amigos, dinheiro, poder e tudo mais, eu perdi no jogo e nas mulheres que tive. Sou um pobre sozinho e com fome; esquecido primeiramente por mim, e jogado na rua pelas pessoas.
Pedro não podia imaginar outra história, assim como João não poderia ser menos distante que aquilo. O velho esquecera-se de falar sobre seu cachorro e Pedro o indagou.
__E esse seu amigo cão, não lhe abandonou por quê? Ele parecia ter a resposta na língua, mas parou um pouco e levantou, fazendo algo inesperado. Pegou o cachorro e pôs debaixo do braço e saiu dizendo:
__Eu posso ter perdido tudo nessa vida, mas meu cachorro é o único motivo que me faz acordar todos os dias. Ele pode não ser o mais valente e nem o mais bonito; pode não ser o mais limpo ou o mais obediente, mas ele nasceu na riqueza e perdura aqui na pobreza. O senhor já quis sentar, quem sabe queira levar meu cachorro pra fazê-lo virar sabão!
Ao se distanciar, o velho ainda olhou pra trás e passou ao lado de João lhe dizendo, por alguns instantes, poucas palavras que não pude escutar.
Por ali mesmo sentei e pensei um pouco. Olhei minhas posses e meus afazeres diários. Não pude deixar de lembrar das pessoas que amo e nem das que odeio. As pus todas ali naquele chão medonho e pensei quem merecia estar ali.
Vi que só eu merecia estar naquele lugar imundo e abandonado, pois quem abandona seu passado não pode entender o futuro que lhe espera. João, que se aproximara dali. Ele me olhou e antes mesmo que eu pudesse lhe perguntar algo, ele me disse:
__ O velho me falou que você precisava de ajuda pra entender que nesse mundo em que vivemos, a injustiça é que faz o homem sair do lugar.

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