segunda-feira, 11 de março de 2024

Certa vez, em 2013…

 

Não “era uma vez”, nem um talvez, foi uma vez e não apenas naquele momento, mas em muitos outros. Vínhamos em 4 conversando sobre política e coisas afins e de repente Pedim disse assim: “mah tu já imaginou, eu sem sinal numa época dessa”...e continuou: “mas imagine aí como era em 90 e tanto que não tinha nem celular e nem internet”.

pois é, imaginemos…

O que vivemos hoje, em termos…aliás, em todos os termos, hiperconectados, nos faz mal e um mal sem precedentes na história da humanidade. E eu pergunto: onde vamos para com isso? Tudo, hoje em dia é comunicado, é dado notícia, é postado, curtido, compartilhado e mais uma infinidade de outras coisas; mas de certa forma, é apenas uma forma de pedirmos socorro de nós mesmos!

Quem hoje em dia é capaz de sair de casa, primeiramente, sem levar o celular? Só isso já soaria esquisitíssimo! Mas quem é capaz de, estando com o celular, não fotografar um almoço ou uma simples caminhada? impossível! Como eu disse antes, nós nos acostumamos a dar notícia de tudo que fazemos e onde estamos. Mas eu te pergunto: onde estamos?

Não estamos bem, com toda certeza. E cada dia mais, cada vez mais, aquilo que deveria ser um milagre do mundo tecnológico, se tornou, literalmente, uma algema digital. Tenho 43 longos anos e sou incapaz de dizer quando estive sozinho comigo mesmo por mais de 24hs! É quase que uma insanidade imaginar algo assim, e pior, se você “some”, provavelmente ninguém “dará fé” do seu sumiço…ou do meu, sei lá.

Porém, uma coisa é certa: ninguém nunca me ligou dizendo que eu havia ganhado na loteria ou, menos ainda, ninguém nunca me mandou uma mensagem dizendo: estou aqui e me importo com você. Acredito que nos damos importância demais, demasiadamente. O mundo, claro!, continua girando independente de sabermos disso ou daquilo ou se vimos a última postagem de quem quer que seja! A natureza humana pede, e a humanidade se autoignora.

Sim, fazíamos isso diariamente, nos importávamos uns com os outros, ao ponto de ir na casa das pessoas! E pasmem, sem avisar antes. Deixa eu explicar como era: toc toc, e aí!!!! A mágica acontecia. Claro que cada um tinha seu ritual de encontrar-se fisicamente com os amigos, e para o espanto de todos, conseguir prestar atenção no que as pessoas amigas diziam, sem desviar o olhar para a tela do celular.

Sim, o celular é meu inimigo. Como disse meu amigo: “já imaginou um negócio desses?” Imagino todo dia…o que eram notificações em 1990? Acredito que poucos de nós saberíamos usar tal palavra em um contexto bem extenso… nesse tempo, tínhamos até apelidos, não éramos tão brancos ou negros, nem tão lgbt…o mundo era analógico e o amor era muito mais do que esta palavra tão esquecida. Sim, o amor existia sem que precisássemos “dar notícia” dele.

Saudosista demais este rapaz? Com toda a certeza! Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que estou pensando seriamente em abandonar esta tela. É o vício dos vícios! É literalmente a amplificação do vício. Beber? Vamos marcar. Jogar? Vamos marcar. Sexo, drogas e nem o rock and roll existem mais! “Esquema”? era esperar passar em frente ao colégio ou na calçada. Tudo fazia sentido e nada precisava ter sentido. Nossa conexão era lenta, porém, duradoura. Nossa necessidade de mais e mais e mais e melhor e pior e sei lá mais o que, era apenas quando as coisas estavam muito ruins…

Sim, a humanidade falhou. Estamos condenados a vagar pela tela super amoled ultra-hd gorilla glass infinito! O homem se tornou mulher, a mulher perdeu a graça e a "minha nossa senhora", só deus sabe!

Talvez, se eu saísse agora da tela, eu melhorasse como pessoa e melhoraria em pessoa. O “eu” nunca esteve tão presente entre, literalmente, nós. Vamos tentar viver sem? Se a resposta for "impossível", lamento, pois padecemos do mesmo mal. quem sabe diminuir e aumentando a ausência do aparelho...quem sabe consiga, sei lá. Tentamos ou está bom assim mesmo? Enfim, a vida é aquilo que acontece ao nascermos. Viver é aquilo que se faz antes de morrer. Então, cada um escolhe como viver.

Vivemos a ampliação do nosso ego, em detrimento da busca de sentido que a vida deveria ter. Concorde ou não, está é minha opinião. Certo ou errado, nem o tempo dirá...

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