segunda-feira, 14 de junho de 2021

Os paços que escuto

 


 

Se fechar os olhos, mesmo que não precise, escuto os paços dos que passam e dos que passaram. Reconheço-os só de ouvir, seja na memória, seja agora.

Alguns desconhecidos, são apenas sons vindos de fora; até mesmo alguns que entram, entregam e saem, sem muito dizer. Porém, a maioria, seja dos vivos e dos mortos, passeiam pela mente, dizem a que vieram e quem são.

Não conhece o seu amor só de ouvir seus passos? Os passos são seguidos, contínuos ou continuados, mas nunca iguais, mesmo que sejam da mesma pessoa. Há passos mais fortes, outros mais vagarosos; uns se arrastam, outros apenas passam.

Há aqueles de saudade em ouvi-los! Já vinha me dar um carão ou mandar fazer algo, mas que hoje são apenas lembranças. Quem nunca se escondeu ao ouvir tais passos que o tempo levou? Que nunca temeu as notas ruins do boletim escolar? Quem nunca se apressou no banheiro, no chuveiro ou no quintal?

“Vem vindo alguém, corre!” Essas lembranças são passadas, mas são de um ininterrupto presente. Hoje, quem sabe, eu volte a sonhar com tudo isso! Que foi apenas um engano do tempo de agora, pois estão todos por aí, andando entre nós.

Serão almas ou serão sermões? Não sei, mas as escuto todos os dias. Quem me garante que são realmente de verdade e que não são apenas imaginação?

Lá fora, além do barulho, aqui dentro, além dos gritos, a saudade se distancia da realidade num passo que nunca para. “Este foi dele”, “aquele é de alguém”! Todos caminham sem findar, imemoriais, eternos, sejam eles de um ou dos outros.

Está ouvindo? Estão passando, um por vez, um atrás doutro e doutro, num compasso sem música, numa marcha singular. São vários, várias, variados, visões que meus ouvidos não param de escutar. São muitos, todos os dias, eu sei...

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