O dicionário diz que PRESENÇA é “fato de (algo ou alguém)
estar em algum lugar”. Em tempos como os de hoje, se é que um dia foram
diferentes, onde a morte paira em cada olhar e se debruça, por vezes, em nosso
imaginário, estar presente é estar vivo entre os vivos; no caso, ter escapado
da pandemia.
Mas será que damos tanta importância assim a vida? Estamos
realmente presentes em todos os dias frente aos nossos entes ou até mesmo as
demandas da sociedade? Será que somos tão oniscientes, pelo menos em
pensamento, em achar que cada centímetro da nossa existência é necessário à
nossa presença?
Perguntas assim, de cunho filosófico, não são menos existenciais
do que as pessoas que sequer nisso pensam: na existência presente. É comum,
normal, achar que um abraço ou uma ligação telefônica, em vídeo ou coisa do
tipo, seja um estar presente. Eu vejo, logo sinto; e se sinto, é porque estou
vendo. Nada mais nos deixa distantes! Somos e vivenciamos o realismo distante e
presente.
Lembranças são acessadas ao toque dos dedos; baixadas,
compartilhadas, filmadas e afins. O tempo e o tempo todo estão na linha do
tempo das redes sociais. Sorrisos cada vez mais brancos são presenças cada vez
mais nítidas? Mais pixels, mais nitidez, mais poder de estar?
São muitas perguntas e um 100 número de respostas.
Tantas lembranças assim me dizem que os tempos não
mudaram, mas sim a nossa percepção de ESTAR. Deixamos de ser carne e osso e
cada vez mais nos tornamos digitais. O que ontem era apenas passado, pode ser
visto na palma da mão. os sentidos humanos estão sendo substituídos pela onipresença
das máquinas. Teremos mesmo uma revolução cibernética?
O que no começo do texto era apenas uma palavra, PRESENÇA,
agora se torna uma coisa eterna, digital.
Todo dia o Facebook me lembra do que aconteceu há 1 ano,
7 anos! Será que eu quero lembrar tanto assim? Será que queremos estar tão
presentes em tantos passados diferentes? Será que temos capacidade de ficar lembrando
e lembrando diariamente de pessoas e coisas? A vida deixou de ser contínua e tênue
e virou rígida e “lembrável”? Ver entes que não estão mais entre nós,
diariamente, não nos traz saudades demais? É bom vivenciar cada vez mais o
passado?
Estar presente deveria ser pelo tempo que for e não pelo
tempo de nossa existência. Estar presente ou presença, deveria ser mais breve,
porém mais forte. Nossa fortaleza de pensamentos está cada vez mais frágil, não
pelo tormento da lembrança contínua, mas pela banalização a presença.
As lembranças, boas ou ruins, deveriam ir e vir em nossas
mentes e não em nossas telas. Desapegue-se do agora e viva o daqui a pouco. Coloque
um pouco de expectativa para o daqui a pouco, fique ansioso, viva! É bom
lembrar de quem já não está aqui entre nós, é melhor ainda lembrar daquela
viagem ou daquele abraço, mas que seja em nossa mente humana e não na
onipresença cibernética dos bits.
Nada melhor que a lembrança de um cheiro ou de um abraço
dado. Somos tão humanos que por vezes esquecemos de esquecer o quanto é bom ter
uma lembrança. A humanidade carece de um forte abraço e de lembrar quão éramos
aconchegantes.
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