segunda-feira, 2 de julho de 2012

A jornada dos ossos.


 Fazem parte da nossa rotina e de nossas vidas. Os cachorros são quase ou mais humanos do que nós. Precisam de quase ou mais tudo que nós. São dóceis e imprevisíveis. Cada cachorro tem seu style ou seu jeito de não ser.
Mas eles têm a pior das qualidades do homem: morrer. Um dog sem raça mas com jeito de cachorro grande; e ele é grande! Enorme! Rabugento... Mas não quer mais viver. Perdeu a força vital; a sua fonte da vida secou. Ele é apenas uma sombra do que era. Não há veterinário que cure a falta de vontade em viver. Ele está e é velho! São mais de 12 + 1 anos de vida! É assim que me lembrarei de sua idade, 12 + 1.
Quando aqui chegou, ainda com 2 meses de idade, pegou pela frente logo um comício. Adivinhem de quem... 1999... Pois era um grande e "festeiro" comício. Foguetório pra ensurdecer até quem não escutava bem. O pobre... Todo se tremendo... Mal sabia ele que iria ficar traumatizado com fogos! Os fogos passaram, e o candidato, infelizmente ganhou e não passou. Não era pra ter ganhado? Era, pois a maioria assim quis, mas por mim... Por Spock...
Hoje os fogos não o incomodam mais. Ele mal escuta, está velho e cansado de tanto sofrer. Quando ainda novo, pegou uma tal de virose. Parece coisa de gente, mas não é. Foi tratado e medicado como um ser vivo que precisava de cuidados. Mas ele não sabe que nem humanos tem o tratamento que ele teve, sempre.
Parei um pouco de escrever agora. É difícil falar e não se emocionar. É e está sendo difícil não vê-lo comer nem beber água. Spock está no fim, no fim de sua jornada, a jornada dos ossos. Não tem mais forças pra quebrá-los, pois está sem vontade, sem alegrias... Eu entendo ele, pois também já fiquei sem rumo, sem forças, sem vontade. Mas ele não tem consciência da vida; eu tenho.
Por mais de 12+1 anos coloquei sua comida e água! Todos os dias, com poucas exceções. Não está sendo fácil pra mim, mas imagine pra ele. Ele não tem mãe pra segurar sua pata... Ele só tem a mim e eu a ele. Não era pra ser assim Spock, você não poderia fazer isso comigo. Mas é a vida, uma vida de cão. As pessoas vivem para verem os outros morrerem.
Um dia lembrarei-me de você como alguém que se foi; alguém que nunca mais vai voltar. Saberei que fora um cachorro legal, gente fina demais! Eu pude lhe contar meus segredos, mas nunca soube dos seus. Dos gatos que matou, das dores que sentiu ou sobre as cadelas que nem mesmo chegou a conhecer... Isso mesmo, ele passou a vida sem saber o que era viver. Mas acho que não dará muita importância para isso, pois não tem como sentir falta daquilo que não conhecemos.
É assim que tento prestar minhas homenagens a quem ainda não se foi; alguém que nem mesmo era alguém, mas um cachorro que foi tratado como gente, mesmo sem nunca ter sido um de nós.

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