Dizem que muito é veneno e pouco é loucura, mas a saudade, é bom sempre lembrar, deve ser usada sem moderação. "menino olha o carro", "menino olha o chão quente", "olha as tarefas da escola", "presta atenção com quem você está andando", "e essas amizades", "você vai pra onde e com quem", "e essa namorada", "essa menina não presta", "rapaz, não faça isso com ela", "eu bem que lhe avisei"... e por aí vamos, até hoje. Quando criança nascemos sem medo, sem amarras; apenas às limitações físicas e psíquicas são visíveis e limitantes. Mas hoje, parece que as coisas mudaram demais, pois existia algo, no meu tempo de criança, adolescente e adulto, que até hoje eu levo no peito e na mente que é gostar da presença de todos. Vejo demais a falta disso nos dias de hoje, parece que vivemos presos a telas e vendo pessoas desconhecidas, como se fossem de nossa convivência diária. sempre lidamos com estranhos, pessoas que vão e vem diante dos nossos olhos, mas que com a violência e essa perda de respeito, cada olhar a cada um que passa, pode ser nosso algoz. até mesmo as pessoas que conhecemos, tornaram-se ainda mais estranhas, pois a convivência não é mais baseada naquilo que percebemos, mas sim, na visão digital das redes sociais. Apelidos? Não pode mais, é politicamente incorreto. Crimes virtuais, exposição pública e coisas piores, se tornam cada vez mais fáceis, mas, aparentemente, permitidas, pois causam likes e comoção seletiva. Vejo, mesmo pelo pouco que vejo, adolescentes cada vez mais presos em si mesmo, de cara no telefone com seus amigos virtuais e suas alegrias medidas em bits e não mais no suor do pé no chão…eles não fazem a menor ideia do que é arrancar o chaboque da cabeça do dedo! Inaptos ou ineptos ao circo social adolescente dos anos 90? Tempos difíceis esses que vivemos...Mas eu tento não me calar ainda mais diante dessa modernidade, tento, mas é difícil convencer as pessoas que nós humanos, reais e ali, na sua frente, ainda somos tão interessantes do que uma tela. Costumo cobrar a todos que sentam na calçada que devemos conversar e não ficar olhando status ou curtindo. Eu sei que é difícil, pois a humanidade está cada vez mais conectada e cada vez menos compreensiva com seu semelhantes. Tudo é motivo para lixamentos públicos, ninguém mais pode errar, não existem mais os “4 olhos”, “os negros da lata de óleo pajeú”, as freiras não podem mais colocar as crianças de joelhos em cima dos caroços de feijão ou de milho. A humilhação pública agora é digital, milhões podem ver, mas ninguém pode mais sentir. Eu já fui mestre splinter, palito de dente, mas já chamei de viado, bixa, baitola, travesti e afins! Mas esse era outro mundo, um mundo real, de realidades e dificuldades. Hoje é diferente, pois nos tornamos zumbis da selfie, da hashtag, da trend, das dancinhas e coreografias “imorais”. Fomos reduzidos a bits, numa dicotomia 0 e 1, 0 e 1, nada mais que isso. Será esse o fim dos tempos? No meu tempo o mundo acabaria no bug do milênio, mas não rolou...Eu acho que não faço a menor ideia do que está para acontecer, mas o que está acontecendo é muito nítido: o homem cansou de viver e agora suja os pés no beach tenis! É o máximo que podemos aceitar. “viado” tornou-se sinônimo de algo para apenas chamar atenção. “teu cu”, antes popular, não pode ser dito em “praça pública virtual”, “nego cafuçu” é crime… mas não é crime ser hipócrita. Se fosse, estaríamos todos presos. Evidentemente que tudo isso era dito pela percepção visual, mas jamais por olhos, que hoje, tão aclimatados estão pelo politicamente correto. A medida que os dias passam, menos dia temos, mas ninguém percebe. Somos zumbis consumidores de likes e visualizações. Curtindo a trend do momento e entrando em quadra para jogar o beach. A canela não ficará mais dolorida pelo racha violento e viril; a lembrança estará contida na nuvem e não mais em nossas mentes. Os bons momentos, inesquecíveis, ficarão guardados na selfie e aquela boa história será contada em podcasts e não mais nas calçadas. O mundo acabou e nós não nos demos conta. A bomba caiu, o cogumelo subiu e nós viramos baratas em redes sociais. Te pego lá fora? Bullying. Pregar chiclete nos cabelos das meninas ou nas carteiras da sala de aula…deverá ser crime logo em breve, mas era engraçado pra caralho. Enfim, no mundo conectado, onde as pessoas se encontram em grupos do zap, a presença física se tornou quase um devaneio saudosista. Que pena, pois mal sabem eles que era isso que nos unia na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, e no dim-dim pós racha…
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