terça-feira, 19 de julho de 2022

” já fui bom nisso”

 

Assim dizia papai sobre, onde, como e quando o tempo lhe deixará apenas a saudade como lembrança de outros tempos...

Eu já fui bom em ouvir e estar com as pessoas. Hoje em dia, talvez por fatores improváveis, eu esteja em uma fase menos, digamos, afeita a ouvir baboseiras. Impaciente e indeciso, assim como na música do Legião Urbana. Mas muito menos “amo mais você do que eu”, do Catedral.

Deve ser a idade, ou o excesso dela; ou quem sabe os erros, e o excesso deles; ou talvez e mais provável, todas as anteriores. Todos chegamos em algum lugar de alguma forma. É impossível chegar aos 15, 25, 33, 42! Anos, sem que as marcas do tempo não nos empurrem contra as pessoas.

É o filho chato, a mãe que não entende, o marido/esposa que reclama, é a vida que não se desenvolveu ou os fatos que julgamos necessários que não saíram do canto! Mas aqui entendo o que o papai dizia: o problema somos nós.

Nós, literais ou objetos, dados na corda ou existenciais, repletos ou incompletos, simples ou impensáveis, vão se acumulando nessa corda que pulamos diariamente. É o cansaço, o sobrepeso, o mais do mesmo, a falta de quem nos compreenda, o tempo que só passa e nada acontece! É tudo e ao mesmo tempo nada.

No final, ao fim, sequer teremos a possibilidade de olhar para trás. Quando chegar a hora de nos chamar saudade, como diria Nelson do Cavaquinho, o tempo não irá parar, né, seu Cazuza?

O que somos hoje é a “soma de todos os medos”, um ótimo filme com Bem Afleck e Morgan Freeman. E nem nos nossos piores pesadelos acharíamos estar na situação na qual nos encontramos. Claro e provavelmente, você ou até mesmo eu, possa estar se perguntando: “estamos tão mal assim?”

Eu não sei vocês, mas eu sinto falta dos meus tempos de criança:

“eu daria tudo que eu tivesse, para voltar aos dias de criança. Eu não sei pra que que a gente cresce, se não sai da gente essa lembrança...” Grande Ataulfo Alves.

Nesse tempo, até mesmo em tempos mais à frente, não ter, como sempre digo e com orgulho, R$1 no bolso, eram tempos infinitamente melhores. Nossos pais, ainda jovens, carregavam toda a responsabilidade que hoje nos massacra. A realidade era diferente, o tempo era inexistente, os olhos brilhavam... e os pés sujos do chão de terra? Vixe... ali era bom demais. 

Não existíamos, apenas sentíamos. Era simples, sem composição. Não éramos versos trabalhados, apenas prosa sem compromisso. Literalmente, éramos o que o sopro divino nos deu: vida, plena, absoluta e irrefutável.

Mas aí você pode pensar: o homem cresce, para perpetuar a espécie... essa espécie? Se eu tivesse crescido sabendo como o mundo estaria, teria, como diria meu vô, morrido cedo, pois ele falava que quem não quer ficar velho, que morra novo. Não dá meu vô, meu pai já estabeleceu o precedente: "já fui bom nisso..."

Aprendi com ele que as intempéries da vida são inatas. Ou é assim, ou assim não é. Nem posso correr devagar, pois nunca tive pressa e levo esse sorriso porque já sofri demais. Claro que atropelei o Almir Sater, mas ele há de entender.

Na esperança por dias melhores, por pessoas melhores, por um mundo melhor, acho que vamos levando, empurrando com a barriga. Fico livre dos meus pensamentos quando escrevo, tento deixar aqui, mais que verdades, pois nunca fui de mentir demais. Hipocrisia e o medo de sermos quem somos, nos dá calafrios e cala-bocas.

Talvez eu seja sincero demais e me importe de menos com o que os outros vão dizer, mas ninguém nunca chegará onde eu cheguei, pois ando só e só eu sei...

 

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