terça-feira, 27 de julho de 2010

Ainda ontem... chorei de... saudade.

É engraçado sonhar acordado,
Como se todos tivessem vivido
Cada um dos dias... Coitado,
Até hoje vive esquecido,

Da dor que lhe matara,
Do amor que lhe parira!
Do sonho que lhe incomodara...
Ainda hoje lhe sobra ira.

É assim vê-La em outro domo.
Noutro abraço espremida.
Brindando com o meu abandono
O amor, morta de vida!

E mesmo no aparente soar,
Do caçoar e dos retalhos,
Continuas como se me deixar

Ainda fosse um recurso,
Impossível de mudar
E infalível em seu curso.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A quem possa interessar.

Negra, enquanto orvalho a dor,
Preterida fonte de acalento,
Faz de mim o teu contento,
Pois outro amor não há.

Rosa, faz perfídia rosa.
Diz que tenho o que te falta;
Agrada com riso, maltrata.
Na mesma hora faz passar.

Vento, entristecido e claudicante
Vem me espera, vem perdido!
Vem parar a minha sede!
Vem clamar o que não digo.

Vem surtar na noite adentro!
Vem roçar, sou teu paiol.
Vem viver mesmo com medo
Na brecha pequena do meu lençol.

Que não reprime teu gemido.
Nem mesmo te esconde do amor.
Sei que não sou tão vivido
Para entender o que não sou.

Mas o que quero nessa morada
É tão claro quanto o breu:
Quero amor e dar a amada...
A quem não tenho, sempre seu.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Engana-te se pensas o que sou.

Vou soprar meu barco rumo norte;
Procurar saltar no vasto resquício,
Pois ao sul, do sol, irei rever a morte
E sua imensidão azul de precipício.

Bem que fosse cavalgar no sombrio
Sem enxergar as partes mórbidas,
Correndo de fronte; batendo de frio,
Nas dunas paradas do coração.

Que vive sim, que vive não;
Que sente vir , que sente paz;
Que vai assim, e pra nunca mais.

E por mais uma vez deixar existir.
Deixar a dor vagarosamente me levar
Ao relento... Ao esquecimento.

Que morre sim. Que sofre em mim.
Que é som sombrio. É frescor.
Vou soprar e nunca mais voltar
Ao sabor amargo do meu amor.