domingo, 29 de novembro de 2009

Devaneios... A me torturar.

Eu nem tinha idade para tanto
E apesar do meu espanto,
Muito bem que eu me queria,
Já desde cedo dizia:
Amor não quero pra mim.

Era visível meu breve despertar.
A vida que eu queria me dar.
Mesmo sabendo que o sofrimento
Era e fazia parte do momento,
E que jamais ficaria assim.

Muito desejavam meu fim;
Todos esperavam meu levante.
Apesar de jamais ser como antes
Sofrer era a dúvida que resolvia

Era a vida que eu queria.
Era a pompa que eu almejava.
Era sofre que me agradava,
Era a fonte dos meus desejos.

Muitos e muitos dos gracejos
Que a morte me lançava,
Fazia pouco, eu dela,
Pois com ela eu me abraçava!

E apesar dos pesares...
Apesar do meu espanto,
Viver era uma dor sentida
Que me agradava tanto.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ameaça de chuva

Estavas caída, sem que houvesse vida.
A lágrima, na chuva, mal se via...
Minha mão leve, entre a sua retorcida,
Era o teu amparo, agora, noite e dia.

Eu era a tua morada, o teu amanhã.
Nascia ao teu lado; eu era Deus.
Tudo por ti fazia, na tentativa vã
De acalmar as dores dos olhos teus...

Alucinados pela luz que se perdia
Nas mil instâncias ia meu querer,
Antes de alcançar a longa via
Eu já pensava em ti perder.

Fiz-me; faço-me! Sou um pobre.
Estavas... Estavas... Agora és forte.
Quem tivera, em mim, o norte

Agora vai a própria sorte
Deixando o amor mais nobre
A quem eu possa ajudar quem sabe.

Mas se eu, que um dia fui teu santo
E passei dias e dias no pecado,
Olhando teus olhos; vendo teu canto

Dobro o destino, guardo teu manto.
Vendo a alma impura e domesticada...
Sinto por vezes a mesma chuva;

A mesma chuva me bate a porta.
Batendo a porta, pedindo abrigo
Terás castigo, e de mim nada.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O coração.

É lá longe, na palma da mão.
Que escorrega entre os dedos
Que por vezes pede perdão;
Trai os olhos e com seus medos
Empobrece a razão.

É difícil! Eu sei que pode ser.
Ali tão perto lhe sorrindo
Quase perfeito e não crê!
Troca o momento pedindo
Ao invés de receber!

Mas quem pode ser direito?
Até que ponto metodista...
Não peça. Não insista!
Faça por merecer!

Ao invés avesso retrucado
Até que possa estar ciente.
Pense em ninguém... Gente!
O que mais posso querer?

É tão bela, tão sucinta.
Um par duplo no rosto
De olhos lindos como nunca
Vi antes no meu bom gosto.

E na espreita deste segredo
Peço a esta longa espera:
Encontrar-te.

Assim, reinará o sossego.
Em quem antes tivera medo,
De perder minha única parte.

domingo, 22 de novembro de 2009

ENQUANTO DURE.

É um vicio que soterra.
Uma praga que mina,
A alma que espera
Ver que nada ensina.

Faz chorar; faz morrer.
Deixa a vida doentia.
Faz a alma deixar de ser
O que jamais seria!

Quero tudo e nada.
Tenho tudo e tudo!
Assim que me iludo...
Assim vai maltratada.

A alma. A calma. O vício.
Soterra minha amada!
Faz de mim resquício!

Faz o sal ser minha cura;
A dor meu benefício;
A morte virar ternura
E a vida um precipício...

Por te querer seja eu
Um mar de calmaria.
Naufragado no teu...
Amor por um dia.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Entender? Jamais!

Um toque amargo de quimera
No azul do céu que possa ver.
Sem raízes profundas, a espera
Leva de mim tudo, menos você.

Possa, sei, eu nem te querer,
Nesse levante louco de amar;
Louco mais ainda por querer
Um amor que não possa me dar.

Sei que dizem, eu nada saber.
Profanam meu sentir... De fato.
O que pego não foco, nem tato
Apenas sinto, o que não, em você.

E apesar dessas coisas estranhas
Dessas tamanhas vis e sem nexo,
Deixo sublinhado o meu recado
Nos covis obscuros do complexo.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

VAZIO

Havia um espaço sem dono
Onde repousou meu coração.
E lá, como trem sem rumo,
Como um mundo sem prumo,
Descansa meu abandono.

Há de raiar em seus olhos lindos
Um olhar bem mais especial.
E lá, naquele instante,
Como nunca dantes,
Vive algo sem igual!

É o amor... São seus pensamentos?
Não há de entender-me. Não.
O que mais quero e o que espero
Dista léguas destes lados.
Não vem, nem manda recados.
Apenas existe.

E como um espaço sem dono...
Um acaso abandono;
Um instante de sono...
Num mistério doentio.

Visto não existir remédio
Nem notícia de tal situação.
Escrevo para animar o tédio
Onde repousou meu coração.

sábado, 7 de novembro de 2009

Para onde vamos?, por Fernando Henrique Cardoso*


A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda talvez levem as pessoas de bom senso a se perguntarem: afinal, para onde vamos? Coloco o advérbio “talvez” porque alguns estão de tal modo inebriados com “o maior espetáculo da terra”, de riqueza fácil que beneficia a poucos, que tenho dúvidas. Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes. Tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior e ainda por cima melhorou muita coisa. Então, por que e para que questionar os pequenos desvios de conduta ou pequenos arranhões na lei?

Só que cada pequena transgressão, cada desvio, vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advenha do nosso Príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o país, devagarinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade, que pouco têm a ver com nossos ideais democráticos.

É possível escolher ao acaso os exemplos de “pequenos assassinatos”. Por que fazer o Congresso engolir, sem tempo para respirar, uma mudança na legislação do petróleo mal explicada, mal ajambrada? Mudança que nem sequer pode ser apresentada como uma bandeira “nacionalista”, pois se o sistema atual, de concessões, fosse “entreguista” deveria ter sido banido, e não foi. Apenas se juntou a ele o sistema de partilha, sujeito a três ou quatro instâncias político-burocráticas para dificultar a vida dos empresários e cevar os facilitadores de negócios na máquina pública. Por que anunciar quem venceu a concorrência para a compra de aviões militares se o processo de seleção não terminou? Por que tanto ruído e tanta ingerência governamental em uma companhia (a Vale) que, se não é totalmente privada, possui capital misto regido pelo estatuto das empresas privadas? Por que antecipar a campanha eleitoral e, sem qualquer pudor, passear pelo Brasil às custas do Tesouro (tirando dinheiro do seu, do meu, do nosso bolso...) exibindo uma candidata claudicante? Por que, na política externa, esquecer-se de que no Irã há forças democráticas, muçulmanas inclusive, que lutam contra Ahmadinejad e fazer mesuras a quem não se preocupa com a paz ou os direitos humanos?

Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do “autoritarismo popular” vai minando o espírito da democracia constitucional. Essa supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os “projetos de impacto” (alguns dos quais viraram “esqueletos”, quer dizer obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Em pauta, temos a transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no orçamento e minguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo TCU. Não importa: no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: “Minha casa, minha vida”; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos.

Diferentemente do que ocorria com o autoritarismo militar, o atual não põe ninguém na cadeia. Mas da própria boca presidencial saem impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que seja que ouse discordar do estilo “Brasil potência”. Até mesmo a apologia da bomba atômica como instrumento para que cheguemos ao Conselho de Segurança da ONU – contra a letra expressa da Constituição – vez por outra é defendida por altos funcionários, sem que se pergunte à cidadania qual o melhor rumo para o Brasil. Até porque o presidente já declarou que em matéria de objetivos estratégicos (como a compra dos caças) ele resolve sozinho. Pena que tivesse se esquecido de acrescentar “l’État c’est moi”. Mas não esqueceu de dar as razões que o levaram a tal decisão estratégica: viu que havia piratas na Somália e, portanto, precisamos de aviões de caça para defender “nosso pré-sal”. Está bem, tudo muito lógico.

Pode ser grave, mas, dirão os realistas, o tempo passa e o que fica são os resultados. Entre estes, contudo, há alguns preocupantes. Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados. Foi no “dedaço” que Lula escolheu a candidata do PT à sucessão, como faziam os presidentes mexicanos nos tempos do predomínio do PRI. Devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições, sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão. Estes são “estrelas novas”. Surgiram no firmamento, mudaram de trajetória e nossos vorazes mas ingênuos capitalistas recebem deles o abraço da morte. Com uma ajudinha do BNDES, então, tudo fica perfeito: temos a aliança entre o Estado, os sindicatos, os fundos de pensão e os felizardos de grandes empresas que a eles se associam.

Ora dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo). Com isso, os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina. No Brasil, os fundos de pensão não são apenas acionistas – com a liberdade de vender e comprar em bolsas – mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou “privatizadas”. Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições. Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde.